sábado

NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA


NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA (Annie Hall, 1977, United Artists, 93min) Direção: Woody Allen. Roteiro: Woody Allen, Marshall Brickman. Fotografia: Gordon Willis. Montagem: Wendy Greene Bricmont, Ralph Rosenblum. Figurino: Ruth Morley. Direção de arte/cenários: Mel Bourne/Robert Drumheller, Justin Scoppa Jr. Casting: Juliet Taylor. Produção executiva: Robert Greenhut. Produção: Charles H. Joffe, Jack Rollins. Elenco: Woody Allen, Diane Keaton, Tony Roberts, Carol Kane, Shelley Duvall, Colleen Drewhurst, Christopher Walken. Estreia: 20/4/77

5 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Woody Allen), Ator (Woody Allen), Atriz (Diane Keaton), Roteiro Original
Vencedor de 4 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Woody Allen), Atriz (Diane Keaton), Roteiro Original
Vencedor do Golden Globe de Melhor Atriz/Comédia ou Musical (Diane Keaton)


Quando lançou "Noivo neurótico, noiva nervosa", em 1977, Woody Allen já não era nenhum iniciante. Já havia lançado sete filmes, todos comédias bastante elogiadas pela crítica, mas relegadas à espécie de limbo que é reservado ao gênero. Foi preciso que o mais neurótico dos cineastas nova-iorquinos incluísse toques de romantismo em sua obra para finalmente levar pra casa o Oscar de melhor filme, direção e roteiro. Mesmo que tenha fugido do padrão de sua obra até então, normalmente direcionada a um público específico, "Noivo neurótico" talvez seja o filme que melhor define sua carreira a partir daí. Já estão presentes em sua deliciosa comédia romântica (sim, ele também tem uma alma romântica) todos os elementos que que o cineasta iria amadurecer em seus inúmeros trabalhos posteriores, em maior ou menor grau: o humor geralmente judeu, neurótico, erudito e sofisticado que angariou tanto fãs fiéis quando detratores ferozes.

Basicamente “Noivo neurótico, noiva nervosa” é uma história de amor, sem tirar nem pôr. O protagonista Alvyn Singer (o próprio Allen praticamente inaugurando sua persona mundialmente conhecida) é um humorista infeliz com sua carreira na TV que se apaixona pela levemente neurótica Annie Hall (Diane Keaton, que viveu um romance com o diretor, inspirou a personagem e levou o Oscar de melhor atriz), que tenta tornar-se cantora. O romance dos dois evolui à medida em que eles passam a se conhecer melhor, mas as diferenças entre os dois começam a tornar-se empecilhos no caminho de sua felicidade. Nesse meio tempo, ela conhece um empresário musical (vivido pelo cantor Paul Simon) e ele tenta reconhecer em seus relacionamentos passados os sinais que o levaram à crise.


O que diferencia “Annie Hall” (o título original soa infinitamente melhor do que o nome equivocado da versão nacional, uma vez que os protagonistas nunca foram noivos) das outras comédias românticas é o fato de que, além de Allen estar anos-luz da imagem do galã dos tradicionais exemplares do gênero, suas personagens enfrentam problemas mais próximos da realidade do que seus congêneres. Nada de tramas rocambolescas ou vilões estereotipados (apesar do primeiro esboço do roteiro falar sobre um crime em primeiro lugar e deixar o romance em segundo plano). O que leva o romance de Alvyn e Annie à exaustão é a própria vida, com seus caminhos às vezes tão complicados. E a dor do fim de um relacionamento também pode servir como motivo de criação, a exemplo do protagonista, que escreve uma peça de teatro tentando resolver sua conflituosa e ao mesmo tempo carinhosa relação com sua amada - o que de certa forma também foi feito por Woody, uma vez que Annie, sua protagonista feminina é claramente inspirada em Diane Keaton (cujo nome verdadeiro é Diane Hall e tem o apelido de Annie). Keaton, inclusive, utiliza de suas próprias roupas em cena (e seu figurino foi bastante imitado na época, diga-se de passagem).

A criatividade do roteiro de Allen fica evidente em momentos de grandes ideias, como o desenho animado que defende as madrastas das histórias infantis, as legendas explicando os pensamentos das personagens enquanto travam sua primeira conversa e a cena em que Annie está literalmente com o pensamento longe de sua transa com o namorado. Isso sem falar em alguns das tiradas mais inspiradas e engraçadas da carreira do diretor ("Em Los Angeles eles não jogam o lixo fora, eles reciclam em forma de programas de televisão", vocifera Alvyn quando obrigado a visitar a Califórnia).

Anos depois de seu lançamento, “Noivo neurótico, noiva nervosa” pode ter perdido parte de seu frescor e de seu senso de novidade, mas os diálogos espertos escritos por Woody Allen e a bela homenagem feita à Diane, em um papel sob medida continuam tão atuais quanto em sua estreia.

Um comentário:

Elton Telles disse...

Grande clássico de Woody Allen! Filme obrigatório para todos os amantes de cinema.

abs!

VAMPIROS DO DESERTO

VAMPIROS DO DESERTO (The forsaken, 2001, Screen Gems/Sandstorm Films, 90min) Direção e roteiro: J. S. Cardone. Fotografia: Steven Bernstein...