quarta-feira

MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS


MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS (Mujeres al borde de un ataque de nervios, 1988, El Deseo SA, 90min) Direção e roteiro: Pedro Almodovar. Fotografia: José Luis Alcaine. Montagem: José Salcedo. Música: Bernardo Bonezzi. Figurino: José Maria de Cossío. Direção de arte: Emilio Cañuelo, Félix Murcia. Produção executiva: Agustin Almodovar. Produção: Pedro Almodovar. Elenco: Carmen Maura, Antonio Banderas, Julieta Serrano, Maria Barranco, Rossy de Palma, Kit Manver, Guillermo Montesinos, Chus Lampeavre. Estreia: 23/3/88

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro

Se em “A lei do desejo”, de 1986, o diretor espanhol Pedro Almodóvar não agradou a gregos e troianos, usando e abusando de suas obsessões por sexo, religião e personagens bizarros, com seu filme seguinte ele atingiu um novo patamar em sua carreira ainda jovem: sucesso de bilheteria e indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, "Mulheres à beira de um ataque de nervos" já apontava para uma maturidade precoce e um futuro que já parecia bastante promissor. Se ele abandonou duas de suas marcas (o sexo e a religião) não economizou em personagens bizarros. Poucas vezes se viu tantos personagens deliciosamente insanos reunidos em um mesmo roteiro, saídos da mente quase doentia de um diretor que utiliza o deboche como arma contra a hipocrisia.

A dubladora e atriz Pepa (Carmen Maura, soberba como sempre) entra em pânico quando descobre-se grávida do amante casado Ivan (Fernando Guillen), que, se não bastasse, acaba de abandoná-la para viajar com outra mulher. Tentando comunicar-se com o desaparecido colega de trabalho e cama, ela nem percebe a loucura que começa a desenhar-se a sua volta: sua amiga Candela (Maria Barranco) muda-se para seu apartamento, apavorada com a possibilidade de seu ex-namorado, um terrorista xiita, derrubar um avião de passageiros conforme um plano que ela acaba de descobrir; a enlouquecida esposa de seu amante, Lucía (a ótima Julieta Serrano), recém saída de um hospital psiquiátrico, tenciona matá-la; o filho de seu amante, Carlos (o ator habitual de Almodóvar, Antonio Banderas) e sua noiva Marisa (Rossy de Palma) querem alugar sua cobertura, sem sequer desconfiarem da ligação entre os dois e a advogada feminista que ela procura para ajudar Candela, Paulina Morales (Kiti Manver) está mais interessada em viajar com seu novo amor do que colaborar com as duas.


Somando dois policiais a essa turma de enlouquecidos personagens, Almodóvar criou sem dúvida uma das comédias mais inteligentes e sideradas que já cruzaram as telas. Transitando em cenários kitsch, repletos de cores berrantes e vestindo roupas inacreditavelmente bizarras, as mulheres imaginadas pelo cineasta recitam diálogos engraçadíssimos e surreais, em situações absurdas que, paradoxalmente, fazem todo o sentido do mundo dentro do universo insano de Pedro Almodóvar, que magistralmente citou a si mesmo e a seu filme em "Abraços partidos", em uma homenagem carinhosa e hilariante.

Não deixa de ser apavorante, no entanto, imaginar a refilmagem proposta por Jane Fonda - e que felizmente até hoje nunca se concretizou. Por mais perfeito que seja o roteiro do diretor espanhol, sem sua presença atrás das câmeras é pouco provável que as mulheres que ele imaginou à beira de um ataque de nervos sejam tão deliciosamente passionais.

Um comentário:

Rodrigo Mendes disse...

Refilmagem por Jane Fonda?
Fiquei surprezo, rs!
Ufa que ela não fez!

Almodóvar é tão espanhol e acho impossível copiá-lo.

Ao menos Woody Allen fez uma honra á ele com Vicky Cristina Barcelona, só que mais na visão da platéia do que do diretor. Afinal Allen também tem estilo.

Esta fita é o TOP das comédias berrantes e gritantes de Almodóvar.

Adoro a sequência do gaspacho e a homenagem que ele faz no paralelo Chicas y Maletas em 'Abraços Partidos'.

Abraços
Rodrigo

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