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KUNDUN

KUNDUN (Kundun, 1997, De Fina-Cappa/Dune Films, 134min) Direção: Martin Scorsese. Roteiro: Melissa Mathison. Fotografia: Roger Deakins. Montagem: Thelma Schoonmaker. Música: Philip Glass. Figurino: Dante Ferretti. Direção de arte/cenários: Dante Ferretti/Francesca LoSchiavo. Produção executiva: Laura Fattori. Produção: Barbara De Fina. Elenco: Tenzin Thuthob Tsarung, Gyurme Thetong, Tulku Jamyang Kunga Tenzin, Tenzin Yeshi Paichang. Estreia: 25/12/97

4 indicações ao Oscar: Fotografia, Trilha Sonora Original/Drama, Figurino, Direção de Arte/Cenários

No mesmo ano em que Steven Spielberg amargou o fracasso comercial - e de certa forma de crítica - de seu "Amistad", outro cineasta respeitado e dono de um respeitável currículo também viu uma obra sua ser praticamente ignorada pelo público (apesar de ter arrancado alguns elogios da mídia): ao desviar seu foco de atenção das violentas e sombrias ruas de Nova York para a trajetória de um dos líderes mais inspiradores do mundo, Martin Scorsese fez de "Kundun" um dos trabalhos mais importantes de sua carreira, ainda que, paradoxalmente, um dos menos vistos da mesma. Depois de provocar a ira da Igreja católica com seu "A última tentação de Cristo", de 1988, o cineasta entrou também na lista de personas non gratas do governo do Tibet, junto com a roteirista Melissa Mathison e o ator Harrison Ford (casado com ela à época das filmagens).

Filmado no Marrocos - uma vez que locações no Tibet se mostraram impossíveis devido ao teor político do roteiro - "Kundun" conta a história do 14º Dalai-Lama, desde seu nascimento até seu exílio, causado graças às convulsões sociais perpretradas pela opressão chinesa - na figura de Mao Tsé-Tung. Ao utilizar somente atores não-profissionais em seu elenco (inclusive parentes do real Lama), Scorsese ganha em veracidade, mas perde em termos dramáticos. É perceptível que falta a "Kundun" uma espinha dorsal mais consistente. Ainda que a história seja interessante, faz-se essencial, em determinados momentos, que a audiência tenha um conhecimento maior da história do Tibet do que o normal. Além disso, o fato de não ter nenhum rosto conhecido (leia-se carismático) dificulta ao espectador a empatia necessária para que o trabalho atinja seus objetivos. Nem mesmo a inspirada trilha sonora de Philip Glass consegue emocionar tanto quanto poderia.



Apesar do ritmo lento e de seus problemas de roteiro, no entanto, é preciso louvar "Kundun" por suas qualidades quase redentoras. A reconstituição de época cuidadosa - a trama tem início em 1937 e se estende até 1959, quando o Dalai-Lama se auto-exila na Índia - é cortesia do fiel parceiro de Scorsese, o veterano Dante Ferreti, também responsável pelo figurino correto e visualmente deslumbrante (assim como a fotografia esplendorosa de Roger Deakins, merecidamente indicada ao Oscar). O arrebatador visual do filme, porém, não impede que ele se torne bastante monótono e sonolento depois de pouco mais de vinte minutos de exibição.

A palavra "kundun" significa "a presença". Mesmo que os seguidores da doutrina budista não concordem com essa afirmação - em termos de preceitos não é assim tão fácil chegar a conclusões a respeito do trabalho de Mathison - falta, no filme de Scorsese justamente isso, essa presença que poderia ter feito dele o trabalho excepcional que não aconteceu.

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