quarta-feira

O SHOW DE TRUMAN, O SHOW DA VIDA

O SHOW DE TRUMAN, O SHOW DA VIDA (The Truman Show, 1998, Paramount Pictures, 103min) Direção: Peter Weir. Roteiro: Andrew Niccol. Fotografia: Peter Biziou. Montagem: William Anderson, Lee Smith. Música: Burkhard Dallwitz. Figurino: Marilyn Matthews. Direção de arte/cenários: Dennis Gassner/Nancy Haigh. Produção executiva: Lynn Pleshette. Produção: Edward S. Feldman, Andrew Niccol, Scott Rudin, Adam Schroeder. Elenco: Jim Carrey, Ed Harris, Laura Linney, Noah Emmerich, Natasha McLeone, Peter Krause. Estreia: 05/6/98

3 indicações ao Oscar: Diretor (Peter Weir), Ator Coadjuvante (Ed Harris), Roteiro Original
Vencedor de 3 Golden Globes: Ator/Drama (Jim Carrey), Ator Coadjuvante (Ed Harris), Trilha Sonora Original

Um dos mais populares astros de Hollywood da década de 90, o canadense Jim Carrey lotou salas de exibição com "Ace Ventura", "Débi & Lóide" e "O Máskara" - filmes divertidos, mas um tanto vulgares e bastante longe do que se convém chamar de bom cinema. Adorado pelo público e execrado pela crítica, ele logo fez o que faz todo ator disposto a transformar sua imagem: mudou de gênero. Seu primeiro passo nessa direção, a comédia de humor negro "O pentelho", foi impiedosamente ignorado nas bilheterias. Sua segunda tentativa, porém, acertou em cheio. "O show de Truman, o show da vida" não só demonstrou que Carrey poderia atingir níveis dramáticos mais altos do que demonstrava como também é um dos filmes essenciais dos anos 90, graças à sua oportuna crítica à mídia.

Dirigido pelo sempre competente australiano Peter Weir, "O show de Truman" estreou na hora certa, em que plateias do mundo inteiro se rendiam aos infames reality shows, elevando o nível de voyeurismo da população a níveis jamais imaginados - talvez apenas por George Orwell no clássico "1984". Escrito por Andrew Niccol, que depois assumiria a direção da distópica ficção científica "Gattaca", o filme de Weir se encaixa em diversas classificações. Tanto pode ser uma comédia sarcástica, ou um drama existencial ou até mesmo um suspense dramático, dependendo do ponto de vista do espectador e da maneira com que ele percebe o mundo ao seu redor. Essa inteligência é que justifica sua indicação ao Oscar de roteiro original: poucas vezes o cinema americano foi tão original e irônico a respeito do modo de vida do país e de sua cultura média.



No filme de Weir (que merecidamente recebeu sua indicação ao Oscar de direção), "O show de Truman" é um programa de TV extremamente popular, no ar há mais de 30 anos, que acompanha, desde o nascimento, a vida de seu protagonista, Truman Burbanks (Jim Carrey em uma atuação surpreendente, que equilibra seu costumeiro humor físico com uma melancolia nunca antes vista). Truman vive uma rotina sem sobressaltos, em um emprego burocrático e com uma vida familiar discreta e tranquila ao lado da esposa Meryl, na verdade, uma atriz contratada para o papel (Laura Linney, ótima). Apesar de julgar-se um felizardo, porém, ele nunca esquece seu primeiro amor (Natasha McLeone), que lhe foi abruptamente afastada do caminho em sua juventude. Um belo dia, chegando ao trabalho, Truman escapa por pouco de ser atingido por um holofote e, a partir daí, acontecimentos bizarros o levam a desconfiar que algo muito estranho está lhe acontecendo. Nem mesmo os conselhos de seu melhor amigo, Marlon  (Noah Emmerich) o impedem de tentar, então, sair de sua pacata Seaheaven. Quando as coisas ameaçam sair do controle, o criador do programa, o misterioso Christof (Ed Harris) resolve interferir diretamente no desenvolvimento do show.

O roteiro de Niccol é um primor de ritmo e bom-humor, sem nunca apelar para risadas fáceis. Ele critica tudo aquilo que faz da TV americana - e mundial - algo viciante. Merchandisings explícitos, interferências financeiras dos produtores e manipulação da opinião pública são massacradas impiedosamente, sem que, no entanto, transmita uma imagem agressiva. De certa forma, tudo é tratado com carinho pelo autor e pelo diretor, que envolvem a plateia (do show e do filme) em uma trama tão absurda que chega a soar verdadeira. E para isso, é claro, contam com trabalhos acima da média de todos os envolvidos. Laura Linney quase rouba a cena como a esposa de Truman (em especial quando ele começa a ter a certeza absoluta de que sua paranoia não é assim tão paranoia...) Ed Harris concorreu ao Oscar de coadjuvante depois de ficar com o papel que era de Dennis Hopper (e era o favorito da noite até que James Coburn lhe roubasse a estatueta) por seu poderoso trabalho como o silencioso Christof. E Jim Carrey finalmente conquistou a crítica em um trabalho complicado que tirou de letra (não foi à toa que abocanhou um Golden Globe e desapontou os fãs sendo deixado de lado nas indicações da Academia).

"O show de Truman" é um filme com a cara de sua época, com preocupações éticas e estéticas absolutamente pertinentes. Somado a isso suas qualidades extraordinárias em termos de entretenimento (é divertido e emocionante), é uma obra obrigatória de um dos diretores mais íntegros da indústria de Hollywood.

4 comentários:

renatocinema disse...

Raro filme de Carrey que aprecio, além desse lembro de gostar de "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" e "Cine Majestic".

Acho ele um bom ator que não se leva a sério.

As comédias dele não são meu estilo.

Porém, em Show de Trumam ele foi bem, assim como a direção competente de Peter Weir.

Um filme que me agradou muito.

K disse...

Eu diria que é um filme no mínimo bastante interessante.
blogtvmovies.blogspot.com

Hugo disse...

Quando este filme foi feito a praga dos reality shows ainda estava no começo, sendo uma antecipação do que estava por vir.

O filme em si é um grande trabalho de Peter Weir e do ator Jim Carrey.

Abraço

Silvano Vianna disse...

Bem legal. Gosto bastante desse filme.

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