quarta-feira

A ENFERMEIRA BETTY


A ENFERMEIRA BETTY (Nurse Betty, 2000, Gramercy Pictures, 110min) Direção: Neil LaBute. Roteiro: John C. Richards, James Flamberg, estória de John C. Richards. Fotografia: Jean-Yves Escoffier. Montagem: Joel Plotch, Steven Waisberg. Música: Rolfe Kent. Figurino: Lynette Meyer. Direção de arte/cenários: Charles Breen/Jeffrey Kushon. Produção executiva: Moritz Borman, Stephen Pevner, Chris Sievernich, Philip Steuer. Produção: Steve Golin, Gail Mutrux. Elenco: Renée Zellweger, Morgan Freeman, Chris Rock, Greg Kinnear, Aaron Eckhart, Allison Janney, Crispin Glover, Tia Texada, Pruitt Taylor Vince, Elizabeth Mitchell. Estreia: 08/9/00

Vencedor do Festival de Cannes - Melhor Roteiro
Vencedor do Golden Globe - Melhor Atriz Comédia/Musical (Renée Zellweger)

Depois da fria recepção - tanto crítica quanto popular - a "Seus amigos, seus vizinhos", o diretor Neil Labute compreendeu que precisava urgentemente se reinventar. Sua tendência à polêmica - que atingiu o ápice em sua estreia, o misógino  "Na companhia de homens" - foi deixada de lado, então, em seu terceiro longa. Disfarçado com um elenco de nomes conhecidos e confiáveis - Morgan Freeman e Renée Zelwegger à frente - "A enfermeira Betty" é uma deliciosa comédia de humor negro recheada de referências pop, uma violência um tanto cruel e diálogos saborosos. Não é o tipo de filme que arranca gargalhadas, mas tem um roteiro brilhante que faz uma crítica mordaz à fuga da realidade provocada pela televisão. Pode-se dizer que "A enfermeira Betty" é um "A rosa púrpura do Cairo" que tomou anfetaminas.

A enfermeira Betty do título não é, na verdade, uma enfermeira. Betty Sizemore (Renée Zelwegger em uma de suas melhores atuações) é uma jovem garçonete do Kansas que leva uma vida medíocre ao lado do marido infiel, o mulherengo Del (Aaron Eckhart, o alter ego do diretor se divertindo a valer em sua rápida participação). A monotonia de seu dia-a-dia só é quebrada com os capítulos de "Uma razão para amar", uma telenovela que lhe afasta da apatia de seu casamento. Fascinada principalmente pelo protagonista do programa, o charmoso médico cirurgião David Ravell (Greg Kinnear), Betty tem sua vida totalmente transformada justamente no dia de seu aniversário, quando testemunha, às escondidas, o violento assassinato de seu marido por uma dupla de criminosos. Em estado de absoluto choque, ela cria uma nova vida em sua mente, pega o LeSabre do casal e parte para a California, onde pretende encontrar seu ex-noivo (na verdade, o personagem da novela). O que ela não sabe é que, além de precisar encontrar alguém que não existe na vida real ela está sendo perseguida pelos assassinos do marido - sendo que o mais velho, Charlie (Morgan Freeman), apaixonou-se por ela através de uma fotografia.




O que há de mais inteligente no roteiro de "A enfermeira Betty" é o fato de LaBute e seus colaboradores jamais utilizarem a situação trágica de sua protagonista como forma de deboche. Apesar de estarem todos em uma comédia, os personagens nunca se comportam como tal e o cineasta respeita a condição especial da encantadora Betty, apenas aproveitando-a em prol de um desenrolar jamais previsível. Para isso, conta com uma interpretação excelente de Renée Zelwegger, que consegue escapar vitoriosamente de todas as armadilhas que o papel oferece. Ela constrói uma carismática e sensível Betty de tal maneira a envolver o espectador incondicionalmente - assim como faz com todos à sua volta, desde a bartender de um bar de beira de estrada até à latina Rosa (Tia Texada), com quem vai morar e que lhe ajuda a chegar até seu grande amor - e o que vem depois disso é que faz do filme tão especial.

Em uma comédia romântica convencional, o romance entre Betty e George assumiria a protagonização da trama assim que eles se encontrassem. No filme de LaBute isso jamais acontece. O romance entre os dois é bizarro, estranho, irreal e até mesmo desconfortável (principalmente porque a audiência sabe do que realmente está acontecendo). E o desfecho da trama - que apela para a violência, ainda que nunca exagere - também não pode ser chamado de convencional, mesmo que sua sequência final seja de uma ironia quase clichê. O roteiro de "A enfermeira Betty" brinca com a vaidade da fama e com os perigos da fantasia excessiva, mas nunca pede para ser levado a sério, e talvez aí resida seu charme maior.

"A enfermeira Betty" é uma das comédias mais inventivas e cruéis do início do século, que prova o talento de Neil LaBute em buscar assuntos diferentes de seus primeiros trabalhos e tratá-los com o devido respeito. E é também um marco definitivo na trajetória de Renée Zelwegger como atriz respeitada e admirada. Depois desse filme ela seria Bridget Jones e o resto é história....

Um comentário:

Alan Raspante disse...

Falou tudo, não é um filme engraçado, mas possui um excelente roteiro e uma trama intrigante. Delicioso filme! Acho que é o meu favorito com a Renée!!

Abs ;)

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