sexta-feira

O AVIADOR

O AVIADOR (The aviator, 2004, Miramax Films, 170min) Direção: Martin Scorsese. Roteiro: John Logan. Fotografia: Robert Richardson. Montagem: Thelma Schoonmaker. Música: Howard Shore. Figurino: Sandy Powell. Direção de arte/cenários: Dante Ferretti/Francesca LoSchiavo. Produção executiva: Chris Brigham, Colin Cotter, Leonardo DiCaprio, Rick Schwartz, Bob Weinstein, Harvey Weinstein, Rick Yorn. Produção: Sandy Climan, Charles Evans Jr., Graham King, Michael Mann. Elenco: Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett, Kate Beckinsale, Alan Alda, Alec Baldwin, John C. Reilly, Ian Holm, Danny Huston, Jude Law, Adam Scott, Frances Conroy, Gwen Stefani. Estreia: 14/12/04

11 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Martin Scorsese), Ator (Leonardo DiCaprio), Ator Coadjuvante (Alan Alda), Atriz Coadjuvante (Cate Blanchett), Roteiro Original, Fotografia, Montagem, Figurino, Direção de arte/cenários, Mixagem de Som
Vencedor de 5 Oscar: Atriz Coadjuvante (Cate Blanchett), Fotografia, Montagem, Figurino, Direção de Arte/cenários
Vencedor de 3 Golden Globe: Melhor Filme/Drama, Ator/Drama (Leonardo DiCaprio), Trilha Sonora

O projeto sobre Howard Hughes já vagava em Hollywood há anos quando Martin Scorsese entrou em cena. E, ao finalmente transportar para as telas a história de um dos maiores visionários dos primórdios da sétima arte, o veterano diretor chegou pertinho de seu primeiro Oscar. "O aviador" concorreu em dez categorias e venceu em cinco: fotografia, montagem, figurino, direção de arte e atriz coadjuvante, para uma irrepreensível Cate Blanchett na pele de Katharine Hepburn, uma atuação quase mediúnica.

Howard Hughes (Leonardo DiCaprio) é um milionário de herança que tem três paixões na vida, não necessariamente nessa ordem: aviões, cinema e mulheres. Visionário e perfeccionista, ele resolve unir seus três amores no mesmo projeto e produz e dirige um ambicioso filme sobre a primeira guerra, utilizando aviões de verdade e lançando a carreira da atriz Jean Harlow (a cantora Gwen Stefani em aparição-relâmpago). Mesmo indo contra seus contadores - a cada dia mais apavorados - ele demora anos para finalmente estar satisfeito com a obra e lançá-la nos cinemas. Nesse meio-tempo, Hughes envolve-se com as atrizes Katharine Hepburn (Cate Blanchett) e Ava Gardner (Kate Beckinsale), com os poderosos membros da Panam, com um senador ambicioso e mau-caráter (Alan Alda, surpreendentemente indicado ao Oscar de coadjuvante masculino) e, depois de um grave acidente aéreo, com um sério problema de transtorno obsessivo-compulsivo, contra o qual lutará até o fim de sua vida.



"O aviador" tem inúmeras e inegáveis qualidades: todos os Oscar que recebeu foram justíssimos, e até mesmo Leonardo DiCaprio deixa de ser um astro para voltar a ser o ator com o talento com o qual acenava em "Gilbert Grape, aprendiz de sonhador" e que parecia ter perdido em filmes como "A praia". A complexa personagem que defende é repleta de armadilhas e o jovem ator sai-se admiravelmente bem na maioria delas, esbarrando apenas na questão etária: apesar de bom ator, ele não aparenta a idade que é necessária em certos momentos. Até mesmo sua relação com Cate Blanchett em cena fica comprometida devido a essa questão fundamental.

A parte técnica de "O aviador" é admirável, como se espera de um filme com a assinatura de Martin Scorses. A reconstituição de época é formidável, a fotografia de Robert Richardson parece ter vida própria e a música de Howard Shore combina perfeitamente com o clima pretendido pelo cineasta. O elenco, além de DiCaprio e Blanchett, conta com um Alan Alda venal e odioso, um Alec Baldwin cada vez melhor e Jude Law e Gwen Stefani em pontas luxuosas. Por que, então, o filme não é a obra-prima que poderia ter sido?

A única razão que pode-se apontar é a falta de emoção do resultado final. "O aviador" carece de emoção real, verdadeira. É dono de um belíssimo visual, tem uma equipe impecável e uma história forte e emocionante, mas parece não ter coração. Apesar do esforço de todo o elenco, por exemplo, somente Cate Blanchett parece ter uma personagem humana em mãos. O próprio Hughes aparenta uma frieza que provavelmente prejudica sua empatia com o público. Talvez por isso Scorsese tenha perdido o Oscar para Clint Eastwood, uma vez que "Menina de ouro" - o filme vencedor do ano - apelava muito mais para os sentimentos do que para os olhos, ao contrário dessa superprodução suntuosa mas quase insensível.

Ainda assim, é flagrante que "O aviador" é um dos grandes filmes de Scorsese, infinitamente superior ao seu antecessor "Gangues de Nova York" e digno dentrar na lista de seus maiores sucessos.

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