terça-feira

A INTÉRPRETE

A INTÉRPRETE (The interpreter, 2005, Universal Pictures, 128min) Direção: Sydney Pollack. Roteiro: Charles Randolph, Scott Frank, Steven Zaillina, estória de Martin Stellman, Brian Ward. Fotografia: Darius Khondji. Montagem: William Steinkamp. Música: James Newton Howard. Figurino: Sarah Edwards. Direção de arte/cenários: Jon Hutman/Beth A. Rubino. Produção executiva: G. Mac Brown, Anthony Minghella. Produção: Tim Bevan, Eric Fellner, Kevin Misher. Elenco: Sean Penn, Nicole Kidman, Catherine Keener, Jesper Christensen, Yvan Attal. Estreia: 04/4/05

Depois dos sucessos comerciais de "Moulin Rouge" e "Os outros", do Oscar por "As horas" e do sucesso crítico do difícil "Dogville", a bela Nicole Kidman nem precisava provar mais nada pra ninguém. Saindo direto do set de filmagens do tenebroso "Mulheres perfeitas", ela chegou até "A intérprete", que viria a ser o último filme dirigido pelo prestigiado Sydney Pollack - e o primeiro a ser filmado dentro das dependências da sede das Nações Unidas, em Nova York. Um thriller político com inteligência acima da média, "A intérprete" também não fez feio nas bilheterias mundiais, chegando a mais de 160 milhões de dólares - contra seu custo relativamente alto de 80 milhões. Mas se consegue prender a atenção do público também não chega a ser tão brilhante quanto poderia, escorregando em uma correção política típica de sua época.

Linda como sempre, Kidman - que assinou o contrato mesmo sem ler o roteiro, depois que sua amiga Naomi Watts abriu mão dele em seu nome - vive Silvia Broome, uma talentosa intérprete das Nações Unidas que passa a correr perigo de morte depois de ouvir (sem querer) que um chefe de estado africano que está prestes a visitar os EUA em um congresso será alvo de um atentado. Posta sob a proteção do agente federal Tobin Keller (Sean Penn em um papel atípico em sua carreira), porém, Silvia passa de possível vítima a possível suspeita de estar envolvida na conspiração, uma vez que mistérios sobre seu passado vêem à tona. Recuperando-se de uma tragédia pessoal, Keller começa a se aproximar de sua protegida, mesmo sabendo que ela pode não ser tão inocente quanto alega.



O roteiro de "A intérprete" - que tem o dedo do oscarizado Steven Zaillian e do competente Scott Frank - peca principalmente por não ir mais fundo na suas possibilidades de suspense, preferindo focar sua atenção nos problemas pessoais de Keller e na sua relação com Silvia, privando o público de uma história que poderia render bem mais se tivesse se concentrado na trama política e no suspense - algo que "O pacificador", também estrelado por Kidman, fez com maestria. Sempre que Pollack dirige sua atenção para cenas de tensão - o que felizmente acontece algumas vezes - seu filme cresce, dando ao espectador momentos de grande impacto emocional. É o que acontece, por exemplo, quando Silvia embarca em um ônibus onde o potencial alvo dos terroristas se encontra: são minutos construídos com inteligência singular que faz lembrar o Pollack do conceituado "Três dias de Condor", filme de 1975 estrelado por Robert Redford e Faye Dunaway que virou referência no gênero.

Mas é preciso, acima de tudo, louvar "A intérprete" por sua coragem em ser discreto, elegante e inteligente, ao rejeitar a receita cenas de ação + sangue + efeitos visuais. Com sua sutileza característica, Pollack oferece à audiência um espetáculo que mexe mais com o cérebro do que a maioria dos filmes do gênero, onde a violência é tanta que nem chega a incomodar. Se a química entre Kidman e Penn é quase inexistente a despeito de seu enorme talento isso não se torna um problema maior porque a história contada independe de sua relação. São os segredos e angústias de Silvia Broome que interessam ao espectador e Kidman sai-se muito bem mais uma vez em conquistar o público. No final das contas, o último filme de Pollack cumpre seu papel com louvor e deixa saudade de um cineasta que legou ao mundo grandes obras.

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