quarta-feira

E SE FOSSE VERDADE...

E SE FOSSE VERDADE... (Just like heaven, 2005, DreamWorks, 95min) Direção: Mark Waters. Roteiro: Peter Tolan, Leslie Dixon, romance de Marc Levy. Fotografia: Daryn Okada. Montagem: Bruce Green. Música: Rolfe Kent. Figurino: Sophie de Rakoff. Direção de arte/cenários: Cary White/Barbara Haberecht. Produção executiva: David Householter. Produção: Laurie MacDonald, Walter F. Parkes. Elenco: Reese Witherspoon, Mark Ruffalo, Donal Logue, Dina Waters, Ben Shenkman, Ivana Milicevic. Estreia: 16/9/05

Para se ter uma ideia de como funcionam as coisas em Hollywood, a adaptação do romance "If only it were true", do francês Marc Levy - grande sucesso de vendas em seu país de origem - foi vendida para seus produtores sem que eles ao menos pusessem os olhos no livro. Sua confiança na trama central foi tanta que nem mesmo o fato de o roteiro ter transformado uma história de amor sensível e melancólica em uma comédia romântica bem ao gosto do público médio lhes causou constrangimento. Com um título diferente - "Just like heaven", como a música da banda The Cure regravada especialmente para a produção - e um enfoque mais leve, "E se fosse verdade..." (no Brasil o título do livro foi mantido, para surpresa de muitos) deu à Reese Witherspoon a chance de protagonizar mais um bem-sucedido filme bobinho - quase 100 milhões de arrecadação mundo afora - antes de provar-se uma atriz séria com o Oscar por "Johnny & June". Mas, assim como seus hits anteriores - "Legalmente loira" e "Doce lar" - o filme de Mark Waters diverte por hora e meia, mas é facilmente esquecível assim que a sessão acabar.

Filme ideal para quem procura uma diversão leve e descompromissada, "E se fosse verdade..." mistura humor, romance e fantasia ao contar uma história de amor entre um humano e uma fantasma (sim, mas sem nenhuma pretensão a assustar a audiência). Elizabeth Masterson (Witherspoon, simpática e agradável como sempre, exercitando com conhecimento seu timing cômico) é uma dedicadíssima médica em San Francisco que, às vésperas de finalmente atingir seu objetivo profissional sofre um trágico acidente automobilístico. Seu espírito só percebe que está em coma quando seu apartamento é alugado por David Abbot (Mark Ruffalo, à vontade em seu papel de galã), um paisagista viúvo e que passa suas noites bebendo em frente à televisão. A princípio descrente que aquela mulher falastrona e mau-humorada que apareceu no seu apartamento do nada, David vai aos poucos se acostumando com sua presença, a ponto de apaixonar-se por ela. Porém, o fato de ambos estarem em planos espirituais diferentes atrapalha bastante seus planos amorosos.



Fugindo conscientemente de qualquer paralelo com a moda de filmes espíritas que volta e meia assola Hollywood, o filme do cineasta Mark Waters - que tem no currículo as bobinhas mas deliciosas comédias "Sexta-feira muito louca" e "Meninas malvadas" - não nega a preferência de seu diretor pelo humor, presenteando a plateia com cenas bastante engraçadas - quando David salva o cliente de um restaurante através das indicações de Elizabeth, por exemplo - e referências a outros filmes (a melhor diz respeito a "Os Caça-fantasmas"). Porém, mesmo que dê um generoso espaço ao humor, o roteiro jamais deixa o público esquecer que está assistindo a uma história de amor. E se uma história de amor imprescinde de uma dupla central afinada, "E se fosse verdade..." não pode reclamar da sua.

Às vésperas de abocanhar uma estatueta da Academia por seus méritos dramáticos - como June Carter, a esposa do cantor Johnny Cash - Reese Witherspoon mais uma vez usa e abusa de seu rostinho delicado para mostrar à audiência uma Elizabeth workaholic, um tanto antipática e solitária que desperta empatia na mesma medida em que exercita seu mau-humor constante e encontra em Mark Ruffalo um parceiro à altura. Desajeitado e com um insuspeito timing cômico, Ruffalo praticamente rouba a cena com seu quase misantropo David Abbot, que não consegue aceitar que está apaixonado por uma mulher à beira da morte. São os dois que valorizam muito um roteiro que, apesar de engraçado e terno, não explora a contento todas as possibilidades da história. Sempre que estão juntos em cena, Witherspoon e Ruffalo fazem a plateia esquecer de quão bobinho seu filme é. E isso é mais do que um elogio!

Um comentário:

Hugo disse...

Sem surpresas, mas divertido pela química da dupla principal.

Abraço

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