segunda-feira

TRANSAMÉRICA

TRANSAMÉRICA (Transamerica, 2005, Belladonna Productions, 103min) Direção e roteiro: Duncan Tucker. Fotografia: Stephen Kazmierski. Montagem: Pam Wise. Música: David Mansfield. Figurino: Danny Glicker. Direção de arte/cenários: Mark White/Lisa Crivelli Scoppa. Produção executiva: William H. Macy. Produção: René Bastian, Sebastian Dungan, Linda Moran. Elenco: Felicity Huffman, Kevin Zegers, Fionnula Flanagan, Graham Greene, Burt Young, Elizabeth Peña, Carrie Preston. Estreia: 24/4/05 (Tribeca Film Festival)

2 indicações ao Oscar: Atriz (Felicity Huffman), Canção Original ("Travellin' thru")
Vencedor do Golden Globe de Melhor Atriz/Drama (Felicity Huffman)

Certo dia o roteirista e cineasta Duncan Tucker estava conversando com a atriz Katherine Connella, com quem havia dividido um apartamento por quatro meses, e ficou absolutamente chocado com a revelação de que ela na verdade havia nascido e sido criada como homem. Atordoado com o fato, ele manteve a ideia na cabeça e eis que, tempos depois, em seu primeiro longa-metragem, "Transamérica", a personagem central era justamente um transexual às vésperas de sua cirurgia que finalmente lhe daria o corpo que sua alma sempre buscou. Aclamado pela crítica e estrelado por uma avassaladora Felicity Huffman, o filme de Tucker equilibra com precisão um drama contundente com um senso de humor afiado que lembra bastante o estilo do espanhol Pedro Almodovar.

Em uma atuação consagradora - que perdeu injustamente o Oscar para Reese Witherspoon - Huffman (mais conhecida pela série de TV "Desperate housewives") interpreta uma das personagens mais interessantes e complexas da temporada 2005 de forma magistral. Bree Osbourne é um transexual que está a apenas um passo de realizar seu sonho de passar por uma cirurgia que finalmente a fará a mulher que sempre foi em seu íntimo. Às vésperas da cirurgia, porém, o destino arma das suas e ela descobre que, como resultado de um relacionamento fugaz nos tempos em que tentava se enquadrar na heterossexualidade, tem um filho adolescente. O rapaz, Toby (Kevin Zegers, ótimo), é um garoto de programa viciado em drogas e rebelde, que, em sua mente fantasiosa, imagina seu pai como um orgulhoso descendente indígena. Ao encontrar o jovem - porém sem revelar sua identidade real - Bree fica tocada com seu modo de vida e, pressionada também pela chantagem de sua psicóloga (Elizabeth Peña) - que se recusa a assinar o documento autorizando a cirurgia antes que a situação entre eles se resolva - resolve se aproximar dele e tentar encaminhá-lo decentemente.



O roteiro de Tucker é um primor de ritmo e de cenas destinadas a antológicas - em especial por contar com a excelente química entre seus atores centrais. Intercalando cenas de um humor insuspeito com momentos de forte carga dramática (ainda que longe de piegas), a trama acompanha a evolução do relacionamento entre Bree e seu filho através de um recurso batido - road movie - que funciona à perfeição. Os diálogos entre os dois (bastante improvisados com incentivo do diretor) fluem naturalmente e conduzem a ação a sequências fabulosas - é especialmente inteligente a maneira com que Tucker apresenta Toby ao universo de Bree quando eles param em uma festa particular frequentada quase unicamente por transexuais. E é emocionante também o encontro de Bree com o caminhoneiro Calvin (Graham Greene), em que ela demonstra seu lado feminino com mais propriedade - em cenas que lembram Fernanda Montenegro e Othon Bastos em "Central do Brasil".

E se não fosse o bastante o banho de interpretação de Felicity Huffman - perfeita em cada entonação, em cada movimento físico - "Transamérica" ainda deixa para seu ato final a participação mais do que especial da grande Fionula Flanagan, que quase rouba a cena no papel da mãe de Bree, que não aceita o novo "estilo de vida" da filha/filho e é responsável por alguns dos momentos mais tensos do filme - momentos ainda assim dono de um estilo único de humor negro que alivia até mesmo a densidade que se anuncia perto de seu final. Defendidas por um elenco impecável, as personagens criadas pelo roteirista/diretor chegam a extremos que somente atores do porte de Huffman e Flanagan conseguem tornar críveis e dignas de empatia. Aplausos a Tucker por permitir que eles brilhem intensamente, tornando a experiência de se assistir a seu filme inesquecível.

"Transamérica" é mais do que um filme direcionado ao público GLBT. É um drama com toques cômicos que fala de gente, de famílias, de amor incondicional e da busca pela felicidade. E é absolutamente imperdível!

3 comentários:

o Humberto disse...

Esse filme é fantástico. A Felicity está simplesmente espetacular. Acho que nunca vi Jhonny e June de tanta birra por ela não ter ganho.

Adorei a sequência de posts (inclusive de Jhonny e June. Eu queria conseguir ver um filme por dia também, mas sou agitado demais pra isso.

Bjo meu querido, volte mesmo pra BH.

Hugo disse...

É um ótimo drama que tem como ponto principal a fantástica interpretação de Felicity Huffman.

Abraço

Anônimo disse...

Acho o filme bem legal, com cara de Almodovar realmente.

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