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O MENINO DO PIJAMA LISTRADO

O MENINO DO PIJAMA LISTRADO (The boy with the stripped pyjamas, 2008, Miramax Films, 94min) Direção: Mark Herman. Roteiro: Mark Herman, romance de John Boyne. Fotografia: Benoit Delhomme. Montagem: Michael Ellis. Música: James Horner. Figurino: Natalie Ward. Direção de arte/cenários: Martin Childs/Gabor Nagy. Produção executiva: Mark Herman, Christine Langan. Produção: David Heyman. Elenco: Asa Butterfield, Zac Matoon O'Brien, Vera Farmiga, David Thewlis, Rupert Friend. Estreia: 28/8/08 (Festival de Carnegie)

Trágicas histórias passadas em campos de concentração não são novidade no cinema, haja visto que é quase um subgênero dentro da indústria. Porém, com raras exceções - o clássico "O diário de Anne Frank" entre elas - poucas vezes esse capítulo chocante da história da humanidade foi retratado sob o ponto de vista das crianças. Essa é, talvez, uma das maiores qualidades de "O menino do pijama listrado", uma sensível e delicada adaptação do romance de John Boyne feita pelo inglês Mark Herman - comandante de algumas das mais festejadas produções inglesas dos anos 90, como "Laura, a voz de uma estrela". Discreto e direto, ele não interfere no desenvolvimento de uma trama que, por si só, já é chocante o bastante.

Recriando com competência a Alemanha da II Guerra Mundial, o filme de Herman é visto pela ótica de Bruno (Asa Butterfield), o filho caçula de um comandante da SS (vivido por David Thewlis) que se vê, contra a vontade de toda a família, transferido para uma propriedade no interior. Solitário e introspectivo, Bruno tenta entender, com toda a ingenuidade de seus oito anos de idade, o mundo à sua volta - logicamente tendo seus questionamentos oprimidos pelo pai e pelo professor que vai até sua casa ensinar-lhe a respeito do orgulho nacionalista pregado por Hitler. Enquanto sua irmã mais velha vai cedendo à ideologia nazista - em parte também por sua paixão por um jovem soldado (Rupert Friend) - ele acaba fazendo amizade com o pequeno Shmuel (Jack Scanlon), um menino judeu prisioneiro do campo de concentração perto de sua propriedade. Sua inocência é tamanha que ele imagina que o campo é apenas uma fazenda, e essa sua falta de conhecimento o leva a uma tragédia.


Narrado com sutileza e sem aprofundar-se na violência - afinal de contas o romance no qual é baseado tinha o público infanto-juvenil como alvo, além dos adultos - "O menino do pijama listrado"conquista exatamente pelo lirismo com que se apresenta diante do espectador, acostumado a filmes com essa temática bem mais contundentes visualmente - como "A lista de Schindler", de Steven Spielberg. A crueldade do nazismo é disfarçada com soluções narrativas inteligentes e com certa poesia, valorizadas pela fotografia simples e sutil de Benoit Delhomme e pela bela trilha sonora de James Horner, que mesmo nos momentos de maior tensão alivia a angústia do público na medida em que a trama se dirige a um final dramático e chocante.

Justamente por não apelar para a violência que tornou-se clichê quando se fala em nazismo e por manter o senso de inocência do romance que lhe deu origem, "O menino do pijama listrado" é uma pérola que merece ser descoberta e louvada. A amizade entre Bruno e Shmuel - que proporciona ao filme suas melhores cenas - são de uma beleza única no gênero e é impossível não sentir-se um tanto tocado quando começarem os créditos finais. Não é isso que fazem os bons filmes?

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