quinta-feira

A UM PASSO DA ETERNIDADE

A UM PASSO DA ETERNIDADE (From here to eternity, 1953, Columbia Pictures, 118min) Direção: Fred Zinnemann. Roteiro: Daniel Taradash, romance de James Jones. Fotografia: Burnett Guffey. Montagem: William Lyon. Música: George Duning. Figurino: Jean Louis. Direção de arte/cenários: Cary Odell/Frank Tuttle. Produção: Buddy Adler. Elenco: Burt Lancaster, Deborah Kerr, Montgomery Clift, Donna Reed, Frank Sinatra, Ernest Borgnine, Jack Warden, Philip Ober. Estreia: 05/8/53

13 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Fred Zinnemann), Ator (Montgomery Clift, Burt Lancaster), Atriz (Deborah Kerr), Ator Coadjuvante (Frank Sinatra), Atriz Coadjuvante (Donna Reed), Roteiro, Fotografia em P&B, Montagem, Trilha Sonora Original, Figurino em preto-e-branco, Som
Vencedor de 8 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Fred Zinnemann), Ator Coadjuvante (Frank Sinatra), Atriz Coadjuvante (Donna Reed), Roteiro, Fotografia em P&B, Montagem, Som
Vencedor de 2 Golden Globes Diretor (Fred Zinnemann), Ator Coadjuvante (Frank Sinatra)

Reza a lenda - e todo mundo a conhece - que Frank Sinatra conseguiu o papel do soldado Angelo Maggio em "A um passo da eternidade" graças a suas conexões com a Máfia, fato recriado pelo escritor Mario Puzo em seu romance "O poderoso chefão" (e posteriormente por Francis Ford Coppola na adaptação do livro para o cinema). Passando por um período difícil de sua carreira, Sinatra não só ficou com o papel como teve seu desempenho premiado com um Oscar de coadjuvante e viu sua popularidade retomada, mas a lenda, apesar de bem mais saborosa, é apenas lenda: a verdadeira razão pela escolha do ator para o filme se chamava Ava Gardner, sua então esposa, que, trabalhando em um filme da Columbia, convenceu o chefe do estúdio, Harry Cohn, a dar o emprego a seu marido - afinal de contas, era um ótimo negócio, uma vez que Sinatra aceitaria trabalhar até de graça no filme de Fred Zinnemann.

Recém saído dos sets do western "Matar ou morrer" - que lhe daria uma indicação ao Oscar - o austríaco Zinnemann já tinha experiência com filmes de guerra, sendo "Espíritos indômitos", de 1950 o mais bem-sucedido, quando foi chamado para comandar a adaptação para as telas do polêmico romance de James Jones, que retratava de forma pouco simpática o exército americano, além de tocar em temas-tabu, como o adultério. A princípio relutante - afinal, a época era pouco propícia a provocações políticas graças ao famigerado senador McCarthy - Zinnemann acabou aceitando a tarefa, que acabou lhe rendendo a estatueta da Academia - uma das oito que o filme acabou abocanhando, igualando o recorde de "...E o vento levou". Mais lembrado pela cena em que Burt Lancaster e Deborah Kerr se beijam apaixonadamente na beira da praia, "A um passo da eternidade", porém, é bem mais que isso, mostrando ao público um interessante panorama de dramas particulares de um grupo de militares americanos às vésperas do ataque a Pearl Harbor, em dezembro de 1941.


Se existe um protagonista em "A um passo da eternidade" é o soldado Prewitt, interpretado com a competência habitual por Montgomery Clift. Boxeador que abandonou os ringues depois de uma experiência traumática, Prewitt se recusa a fazer parte do time dos seus colegas, o que acaba suscitando fortes represálias por parte de seus superiores. Sentindo-se isolado, ele faz amizade com Maggio (Frank Sinatra), que, por sua vez, sofre com a implicância de um beligerante sargento (Ernest Borgnine). Seus problemas só encontram anestesia quando ele está ao lado de Alma (Donna Reed, Oscar de atriz coadjuvante), que trabalha no clube noturno frequentado pelos soldados. Enquanto isso, o discreto sargento Milton Warden (Burt Lancaster) sente-se fortemente atraído por Karen (Deborah Kerr), esposa do capitão superior a ele, a ponto de envolver-se em um relacionamento altamente passional com ela. As vidas de todos sofrerão um duro golpe quando os EUA se veem forçados à entrar na guerra, com o ataque japonês à sua base.

Fotografado em preto-e-branco por opção do próprio cineasta - que também recusou qualquer formato de filme que não o tradicional - "A um passo da eternidade" tem em seus personagens e em suas interrelações seu maior mérito. Ainda que o ataque à Pearl Harbor seja o grande clímax do filme, Zinnemann não permite que se torne o ponto principal da obra - mesmo porque a sequência é relativamente rápida e acontece bem no final da projeção. Seu interesse, assim como o era no romance de Jones, é o impacto da guerra nas vidas dos americanos alocados no Havaí, sejam eles militares ou civis. É por isso que, mais do que técnica, a emoção é o principal ingrediente de sua obra-prima: o que fica na memória são os diálogos tristes entre Lancaster e Kerr - cujo trabalho abriu-lhe novas portas em Hollywood, uma vez que demonstrou um sex-appeal até então oculto - e a trágica história da amizade entre Sinatra e Clift (que ajudou o cantor em sua atuação, conquistando um amigo para toda a vida).

É inegável que "A um passo da eternidade" não tem, hoje em dia, a mesma força corajosa que tinha em sua estreia, apesar da "limpeza" feita na trama de James Jones. Mas ainda é um filme poderoso, realizado com imenso talento e um elenco acima de qualquer suspeita, capaz de encantar aos fãs de bom cinema.

Um comentário:

Hugo disse...

Ótimo elenco num dos grandes clássicos de guerra.

Mesmo sem ter o mesmo impacto, ainda é um belo espetáculo.

Abraço

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