quinta-feira

DOMÉSTICAS, O FILME

DOMÉSTICAS, O FILME (Domésticas, o filme, 2001, O2 Filmes, 85min) Direção: Fernando Meirelles, Nando Olival. Roteiro: Cecília Homem de Mello, Fernando Meirelles, Renata Melo, Nando Olival, peça teatral de Renata Melo. Fotografia: Lauro Escorel. Montagem: Deo Teixeira. Música: André Abujamra. Direção de arte: Tulé Peak, Frederico Pinto. Produção executiva: Bel Berlinck. Produção: Andrea Barata Ribeiro. Elenco: Cláudia Missura, Graziela Moretto, Lena Roque, Olívia Araújo, Renata Melo, Tiago Moraes, Gero Camilo, Luciano Quirino. Estreia: 25/01/01

Antes de conhecer o prestígio mundial com o merecido sucesso de "Cidade de Deus", o cineasta Fernando Meirelles fez a plateia gargalhar com o despretensioso "Domésticas", adaptação da peça teatral de Renata Melo, grande sucesso popular que retratava, como o título deixa bem claro, o dia-a-dia das musas de Odair José - que alíás faz parte da esperta trilha sonora, ao lado de nomes como Sidney Magal, Lindomar Castilho e Amado Batista. Acompanhando a rotina de meia-dúzia de domésticas, o roteiro co-escrito pela atriz Cecília Homem de Mello, Meirelles, seu co-diretor Nando Olival e a autora da peça original - é engraçado, terno e, apesar de não ter um átomo da ousadia narrativa da obra-prima de Fernando, conquista o público justamente por sua simplicidade.

Vindo da publicidade - e portanto bastante ciente da importância do visual e do ritmo - Meirelles opta por um viés quase superficial no tratamento de suas histórias, que se entrecruzam sem grandes consequências. Essa aparente fragilidade do roteiro, porém, é compensada por alguns diálogos hilariantes e pelas atuações nunca aquém de impecáveis de um elenco de atrizes novatas - algumas das quais posteriormente se tornariam relativamente famosas, como Claudia Missura e Graziela Moretto. São elas, cada um com seu timing e entonações próprias que transformam a experiência de assistir-se ao filme em diversão pura. Vale lembrar também que Renata Melo (autora do texto original) participa do elenco, na pele de Cida, que busca emoção no casamento mesmo casada com um homem parado a ponto de morrer sem ser notado.


Outro ponto que chama a atenção no roteiro é a ausência total do ponto de vista das patroas, sistematicamente achincalhadas pelas personagens e taxadas (com justiça, de acordo com elas mesmas) de sovinas, autoritárias e preconceituosas. O que poderia ser um falha em um filme com objetivos mais nobres de antropologia, aqui soa como coerência interna. Uma vez que são as empregadas que contam suas histórias (muitas vezes em depoimentos engraçadíssimos para a câmera), é absolutamente dispensável uma outra visão, que provavelmente atrapalharia o ritmo do curtíssimo filme. Sendo assim, testemunhos sobre acusações de roubo, por exemplo, são revestidos com um senso de humor que impede a revolta social (ainda que, mesmo diante de piadas, fique patente uma certa melancolia). Frases como "nenhuma menina diz que quer ser empregada doméstica quando crescer" podem parecer aforismos, mas refletem um estado de espírito de conformismo bastante triste - e que a ambiciosa Roxane (Graziela Moretto) deseja romper ao tentar uma carreira de modelo que a leva para um caminho ainda mais infeliz.

No fim das contas, "Domésticas" é uma comédia leve, direta e com uma missão popular de divertir sem apelar para baixarias. Não foi um estrondoso sucesso de bilheteria, ao contrário das dezenas de abacaxis metidos a engraçados que a população brasileira adotou nos últimos anos, mas é infinitamente superior, tanto em termos técnicos quanto de humor. Um filme que merece ser redescoberto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Um dos meus filmes preferidos, amo!

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