segunda-feira

BATMAN, O CAVALEIRO DAS TREVAS

 BATMAN, O CAVALEIRO DAS TREVAS (The dark knight, 2008, Warner Bros, 152min) Direção: Christopher Nolan. Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan, estória de Christopher Nolan, David S. Goyer, personagens de Bob Kane. Fotografia: Wally Pfister. Montagem: Lee Smith. Música: James Newton Howard, Hans Zimmer. Figurino: Lindy Hemming. Direção de arte/cenários: Nathan Crowley/Peter Lando. Produção executiva: Kevin de La Noy, Benjamin Melniker, Thomas Tull, Michael E. Uslan. Produção: Christopher Nolan, Charles Roven, Emma Thomas. Elenco: Christian Bale, Heath Ledger, Maggie Gyllenhaal, Morgan Freeman, Aaron Eckhart, Michael Caine, Cillian Murphy, Anthony Michael Hall. Estreia: 14/7/08

8 indicações ao Oscar: Ator Coadjuvante (Heath Ledger), Fotografia, Montagem, Direção de Arte/Cenários, Efeitos Visuais, Maquiagem, Edição de Som, Mixagem de Som
Vencedor de 2 Oscar: Ator Coadjuvante (Heath Ledger), Edição de Som
Vencedor do Golden Globe de Ator Coadjuvante (Heath Ledger) 

Em 2005, o cineasta Christopher Nolan provou a todos que o fracasso dos filmes "Batman eternamente" e "Batman & Robin" eram unicamente culpa da concepção equivocada do diretor Joel Schumacher - que os transformou em ridículas alegorias carnavalescas e aniquilou qualquer complexidade da personagem - do que de um possível desinteresse da plateia por novas aventuras do heroi mascarado. Ao recuperar o tom sombrio da criação de Bob Kane, dando a seu "Batman begins" a seriedade apropriada, o autor de filmes criativos e inteligentes como "Amnésia" e "Insônia" não apenas imprimiu ao trabalho sua assinatura como também conquistou uma nova legião de fãs, deixando de lado a versão cartunesca de Tim Burton e cafona de Schumacher. O melhor na história toda, porém, é que esse primeiro capítulo, a despeito de suas inúmeras qualidades, foi apenas o prelúdio para aquele que Nolan transformaria na mais espetacular adaptação da personagem para as telas em seu segundo capítulo: mais longo, mais anabolizado e nem por isso menos inteligente e empolgante, "Batman: o cavaleiro das trevas" é ainda melhor do que o seu original - e, não à toa, rendeu extraordinários 533 milhões de dólares somente no mercado doméstico, tornando-se uma das maiores bilheterias da história. Nada mais justo e merecido!

Ao contrário da maioria das adaptações de quadrinhos para o cinema, que dão prioridade às cenas de ação e a piadinhas de gosto duvidoso, "Batman: o cavaleiro das trevas" - assim como seu antecessor - leva sua trama a sério, injetando complexidade narrativa e densidade psicológica a seus personagens sem sacrificar aquilo que a plateia mais anseia: sequências de pura adrenalina, filmadas com o melhor que um orçamento milionário pode oferecer (e um diretor de imenso talento como Nolan pode proporcionar). Sendo assim, nem mesmo a longa duração do filme (duas horas e meia) consegue atrapalhar a diversão - equilibrada com maestria pela direção, pelo roteiro impecável e pela escalação extraordinária do elenco (que substituiu acertadamente a chatinha Katie Holmes pela ótima Maggie Gyllenhaal no papel crucial de Rachel Dawes, a amada do heroi mascarado que é a catalisadora do clímax inesperado e sanguinolento do final, capaz de surpreender àqueles que não conhecem de cabo a rabo todas as histórias de Batman nos quadrinhos).


Um dos maiores destaques de "Batman: o cavaleiro das trevas" é, sem sombra de dúvida, a atuação nunca aquém de espetacular de Heath Ledger naquele que seria seu último filme completo - ele ainda foi visto no bizarro "O mundo imaginário do Dr. Parnassus", de Terry Gillian, mas não chegou a finalizar as filmagens, morrendo de overdose de drogas autorizadas em janeiro de 2008. Na pele do doentio Coringa, o jovem ator australiano revelado na comédia adolescente "10 coisas que eu odeio em você" deixa para trás a caracterização clássica de Jack Nicholson no filme de 1989 dirigido por Tim Burton e cria um vilão inesquecível já em sua primeira cena - um assalto a banco que termina em violência e que dá o tom exato da história a ser contada. Usando e abusando de trejeitos que dão a seu personagem uma personalidade única, Ledger tornou-se apenas o segundo ator a receber um Oscar póstumo - depois do veterano Peter Finch, de "Rede de intrigas" - em uma premiação que jamais deve ser creditada à emoção dos eleitores: seu trabalho é fascinante, escapando fácil dos clichês do gênero e atingindo um nível poucas vezes vista em filmes do gênero.

E a história, afinal, qual é? Basta dizer que Batman (mais uma vez interpretado por Christian Bale) continua aterrorizando os criminosos de Gotham City, apesar das dúvidas que circundam suas intenções. Quando um novo promotor público, Harvey Dent (Aron Eckhart) é eleito, Bruce Wayne - para quem não sabe a verdadeira identidade do heroi) - respira aliviado, acreditando que as coisas finalmente começarão a mudar em sua metrópole. Suas esperanças começam a mostrar-se infundadas, porém, quando um misterioso fora-da-lei auto-nomeado Coringa surge, disposto a disseminar o caos e a violência - e enfrentar Batman cara a cara.

Apesar da sinopse soar como mais do mesmo, "Batman: o cavaleiro das trevas" tem um roteiro inteligente, que jamais se deixa cair nas armadilhas fáceis de um blockbuster, buscando, pelo contrário, exigir do espectador mais do que o corriqueiro nos filmes do gênero. Essa sua qualidade acabou despertando polêmicas quando a Academia indicou-lhe a oito estatuetas, mas ignorou-o nas categorias mais importantes, como melhor filme e diretor. A gritaria dos fãs de certa forma incentivou o aumento do número de filmes indicados na categoria principal a partir do ano seguinte - em uma tentativa dos acadêmicos de aproximar o público mais jovem da cerimônia de entrega dos prêmios (e que ainda não se mostrou muito eficaz). O fato, porém, é que o filme de Nolan tinha qualidades suficientes para ser lembrado como um dos melhores de seu ano. Pode não ter sido um grande vencedor do Oscar, mas é, certamente, adorado pelos fãs.

Um comentário:

Débora disse...

Batman - O Cavaleiro das Trevas é bem melhor que Batman Begins mesmo. Acho que não só pelo filme ser mais elaborado, aprofundando-se nos personagens e na trama mas pelo brilho de Heath Ledger que interpreta um Coringa tão bem que chegamos a questionar a real sanidade do ator. Achei muito intenso, os trejeitos, tiques e até mesmo o figurino. Se todos os filmes de herói seguissem esse padrão, até Aquaman faria sucesso hahahahahaha

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