quinta-feira

A REDE SOCIAL

A REDE SOCIAL (The social network, 2010, Columbia Pictures, 120min) Direção: David Fincher. Roteiro: Aaron Sorkin, livro "Bilionários por acaso", de Ben Mezrich. Fotografia: Jeff Cronenweth. Montagem: Kirk Baxter, Angus Wall. Música: Trent Reznor, Atticus Ross. Figurino: Jacqueline West. Direção de arte/cenários: Donald Graham Burt/Victor J. Zolfo. Produção executiva: Kevin Spacey. Produção: Dana Brunetti, Ceán Chaffin, Michael De Luca, Scott Rudin. Elenco: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Max Minghella, Armie Hammer, Joseph Mazzelo, Rooney Mara, Rashida Jones. Estreia: 24/9/10

8 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (David Fincher), Ator (Jesse Eisenberg), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original, Mixagem de Som
Vencedor de 3 Oscar: Roteiro Adaptado, Montagem, Trilha Sonora Original
Vencedor de 4 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Diretor (David Fincher), Roteiro, Trilha Sonora Original

Primeiro a questão fundamental: qual a relevância em se fazer um filme sobre o criador do Facebook? Depois a questão estética: o quão chato poderia ser um filme sobre um nerd rejeitado pela namorada que se transforma em bilionário ao criar um site de relacionamentos? Pois então vamos às respostas: com mais de 500 milhões de usuários, o Facebook é o mais acessado site do mundo e no mundo globalizado em que vivemos, negar-se a aceitar sua existência ou importância é fechar os olhos a uma realidade evidente. E segundo: nas mãos de David Fincher, que já dirigiu obras-primas como "Seven" e "Zodíaco", a história de Mark Zuckerberg transformou-se em um empolgante thriller, que só não saiu-se como o grande vencedor do Oscar 2011 porque bateu de frente com o soporífero "O discurso do rei", bem mais palatável ao gosto dos tradicionais - e quase sempre aborrecidos - acadêmicos.

Baseado no livro de Ben Mezrich, o roteiro de Aaron Sorkin começa mostrando como, depois de uma briga com a namorada, e com a ajuda do melhor amigo Eduardo Saverin (Andrew Garfield, o novo Homem-aranha). o jovem estudante de Harvard Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) tem a ideia de criar um site classificando a beleza das alunas da universidade. Chamando a atenção pelo talento, ele é convidado por dois gêmeos, alunos mais graduados (vividos por Armie Hammer com efeitos visuais impecáveis) para criar um website para a universidade. Depois de um tempo, em que não apresenta nenhuma ideia aos irmãos, ele surge com o"The facebook" e, conforme vai ganhando fama e dinheiro - através da ajuda do fundador do Napster, Sean Parker (Justin Timberlake, em surpreendente atuação) - ele vai arrumando brigas e processos: não só os poderosos irmãos Winklevoss os colocam como réu, mas também Eduardo. O filme, contado em flashbacks, conta como ele chegou aos tribunais.


Narrado de forma não exatamente convencional - para o que colabora a estupenda edição - "A rede social" tira proveito da inteligência do roteiro e jamais se prende à tentação de ser apenas mais uma cinebiografia corriqueira - mesmo porque seu protagonista não é o que se pode chamar de mega-astro. Na interpretação contida mas raivosa de Jesse Eisenberg (demonstrando uma maturidade surpreendente), Zuckerberg é um ser humano cheio de dúvidas, raivas e inseguranças, como qualquer um - com a diferença de ser o mais jovem bilionário do mundo. O senso de humor injetado por Aaron Sorkin em sua história serve como um alívio perfeito para uma trama de sucesso e ambição contada com agilidade e ironia. Até mesmo quem não tem a menor noção de informática fica hipnotizado com o filme de David Fincher, um diretor dos mais criativos e originais de sua geração.

Sem cair no maniqueísmo tão comum a este tipo de produções, Fincher não hesita em explicitar os defeitos de seu protagonista, mas tampouco o apresenta como vilão. Mesmo que não seja um exemplo de simpatia e carisma, Zuckerberg conquista a plateia com seu jeito reservado e quase arrogante e essa compaixão da audiência por ele - no fundo um rapaz solitário e sem traquejo social - é o grande trunfo do filme de Fincher, que aqui comprova seu imenso talento - que injustamente não lhe deu um Oscar. Aliás, a Academia foi obrigada a reconhecer outras qualidades do filme: seu roteiro, sua edição, sua trilha sonora são impecáveis(e todas foram premiadas), assim como as atuações dos dois atores centrais. Jesse Eisenberg entrega uma atuação impactante, que não se deixava entrever em seus filmes anteriores - dentre os quais o mais conhecido é "Zumbilândia". E Andrew Garfield, que substituiu Tobey Maguire na nova franquia do Homem-aranha não pode ter um cartão de visitas mais memorável em sua carreira.

"A rede social" é um filme que merece ser visto e revisto. É atual, é instigante, é inteligente. E é mais uma prova de que, com um bom diretor, até mesmo a vida de um nerd pode ser interessante...

Um comentário:

Guilherme Z. disse...

Esse filme é bom e ao mesmo tempo nos deixa incomodado. É dura saber quem alguém progrediu às custas dos outros...

Que bom que você voltou a escrever. Dei uma olhada nos outros textos recentes e estão ótimos.

Guilherme

http://acervodocinema.blogspot.com.br

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