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AMOR & OUTRAS DROGAS

AMOR & OUTRAS DROGAS (Love & other drugs, 2010, Fox 2000 Pictures, 112min) Direção: Edward Zwick. Roteiro: Charles Randolph, Edward Zwick, Marshall Herscovitz, livro "Hard sell: the evolution of a Viagra salesman", de Jamie Reidy. Fotografia: Steven Fierberg. Montagem: Steven Rosenblum. Música: James Newton Howard. Figurino: Deborah L. Scott. Direção de arte/cenários: Patti Podesta/Meg Everist. Produção executiva: Arnon Milchan, Margaret Riley. Produção: Pieter Jan Brugge, Marshall Herscovitz, Charles Randolph, Scott Stuber, Edward Zwick. Elenco: Jake Gyllenhaal, Anne Hathaway, Oliver Platt, Hanz Azaria, Judy Greer, Gabriel Match, Josh Gad, George Segal, Jill Clayburgh. Estreia: 04/11/10

Levando-se em consideração que no currículo do cineasta Edward Zwick contam produções ambiciosas e grandiosas como “Tempo de glória” (89), “Lendas da paixão” (95) e “O último samurai” (03), não deixa de ser uma surpresa ver seu nome assinando “Amor & outras drogas”, um filme com elementos bastante díspares daqueles a que ele está acostumado. Baseado em uma história real e misturando comédia, romance e drama em doses bastante equilibradas, o filme, adaptado do livro de Jamie Reidy, acabou decepcionando nas bilheterias, a despeito de sua ascendente dupla central de atores – Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway – e dividiu a crítica, que viu com reservas a mistura de gêneros proposta pelo diretor. No entanto, com o tempo é bem provável que o público vá finalmente perceber as inúmeras qualidades de um filme que consegue ser ao mesmo tempo doce, engraçado, triste e dotado de algumas cenas de sexo bastante ousadas – mas que jamais ultrapassam os limites do bom-gosto.
Gyllenhaal vive Jamie Randall, personagem inspirado no autor do livro que deu origem ao filme, “Hard sell: the evolution of a Viagra salesman". Randall começa a trama como um vendedor de aparelhos de som que usa e abusa de seu charme e de seu bom papo para não apenas ser um ótimo negociante mas também para seduzir todas as mulheres que cruzam seu caminho. Demitido depois de seduzir a esposa do chefe e ser flagrado em pleno ato, ele arruma emprego como representante de uma indústria farmacêutica – o que o deixa em posição desconfortável dentro da própria família, que não consegue deixar de vê-lo como alguém desperdiçando seu talento em algo aquém de suas possibilidades. É nessa posição de vendedor de remédios – em busca sempre de uma promoção que o faça vender produtos mais desejados do que os simples antidepressivos com que trabalha – que Jamie conhece a bela Maggie Murdock (interpretada pela bela Hathaway), que além de linda e insaciável, é uma artista plástica talentosa que o surpreende com seus modos pouco convencionais: independente e decidida, ela entra sem medo em um relacionamento baseado unicamente em sexo casual. Aos poucos, porém, Jamie passa a sentir algo único em sua vida: completamente apaixonado, ele leva um choque ao descobrir que o alvo de seu afeto sofre do Mal de Parkinson – ainda inicial, mas já suficientemente capaz de fazer seus estragos.



É a partir dessa descoberta – e de suas consequências logicamente dramáticas – que “Amor & outras drogas” assume um viés completamente distinto de seus dois primeiros terços, banhados em sensualidade e um senso de humor despretensioso (em boa parte graças às intervenções de Josh Gad, no papel do irmão de Jamie): transformando seu filme em um romance ao estilo “Love story”, Edward Zwick corria o sério risco de esbarrar no dramalhão deslavado, mas, para surpresa de muitos e com a ajuda de seus atores, escapa bravamente do piegas. Aproveitando a química impecável entre Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway – casados anteriormente em “O segredo de Brokeback Mountain” – o diretor evita o sentimentalismo barato fugindo de cenas exageradamente dramáticas e apostando no carisma da dupla, em dias inspirados. Gyllenhaal deita e rola com um papel que explora ao máximo sua versatilidade: o jovem ator sai-se bem tanto nos momentos cômicos quanto naqueles que exigem dele mais emoção, e brinda os fãs com cenas pra lá de quentes com Hathaway, que, por sua vez, mostra que é uma das atrizes mais completas de sua geração – vale lembrar que o filme é anterior a seu Oscar de coadjuvante por “Os miseráveis”. Apostando na sutileza, Hathaway rouba a metade final de “Amor & outras drogas”, até então dominado por Gyllenhaal, e o carrega até o final como uma história de amor que equilibra em doses certeiras drama, humor e uma sensualidade das mais excitantes.
Demonstrando um conforto inesperado no comando de uma trama desprovida de cenas épicas de ação, Edward Zwick relembra, em “Amor & outras drogas”, seus tempos como diretor de “Sobre ontem à noite”, que retratava o tortuoso relacionamento entre o então jovem casal Demi Moore e Rob Lowe em 1986. Com uma obra plasticamente atraente e uma trilha sonora adequada e moderna, Zwick conquista a plateia pela simpatia e pela leveza: é impossível não se deixar cativar pela bela e inusitada história de amor entre Jamie e Maggie – que, além de tudo, é real. Uma bela dica para os fãs de Gyllenhaal e Hathaway e para todos que acreditam em um bom romance.

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