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NAMORADOS PARA SEMPRE

NAMORADOS PARA SEMPRE (Blue Valentine, 2010, Silverwood Films, 112min) Direção e roteiro: Derek Cianfrance, Joey Curtis, Cami Delavigne. Fotografia: Andrij Parekh. Montagem: Jim Helton, Ron Patane. Música: Grizzly Bear. Figurino: Erin Benach. Direção de arte/cenários: Inbal Weinberg/Jasmine Ballou. Produção executiva: Doug Dey, Ryan Gosling, Jack Lechner, Scott Osman, Michelle Williams. Produção: Lynette Howell, Alex Orlovsky, Jamie Patricof. Elenco: Michelle Williams, Ryan Gosling, Faith Wladyka, Mike Vogel, John Doman, Ben Shenkman. Estreia: 24/01/10 (Festival de Sundance)

Michelle Williams foi talvez a indicada ao Oscar de Melhor Atriz de 2011 que menos destaque teve na mídia, que concentrou-se na disputa entre Natalie Portman e Annette Bening, no retorno de Nicole Kidman e na revelação de Jennifer Lawrence. Essa espécie de esquecimento, no entanto, é absolutamente injustificada. O trabalho de Williams é precioso, uma pequena obra-prima de delicadeza em um filme independente que merecia melhor sorte nas cerimônias de premiação. "Namorados para sempre" - cujo título original, "Blue Valentine", pra variar, soa bem melhor - é o doloroso retrato do fim de um relacionamento, e como tal, é pungente e sofrido. E Williams encontra em Ryan Gosling o parceiro ideal. Excelente ator, Gosling foi esquecido pelo Oscar, mas merecia ao menos uma indicação, pois é o contraponto perfeito para a interpretação de Michelle. Tanto como rapaz sonhador e talentoso como um homem perdido na mediocridade da própria vida, Gosling dá um show.

O filme do desconhecido Derek Cianfrance machuca o espectador por não poupá-lo da dor pela qual passam os protagonistas, vividos com garra e entrega por Williams e Gosling. Eles interpretam um casal em flagrante crise no relacionamento. Ela, Cynthia, é uma estudante de Medicina esforçada e um tanto desiludida com a vida sem maiores encantos que leva. Ele, Dean, vive de bico em bico, pintando casas de vizinhos e sem maiores ambições na vida a não ser marido e pai. Quando um ex-namorado de Cynthia reaparece em suas vidas - mesmo que efemeramente - eles chegam ao ponto crucial do seu casamento: lembrando de todas as situações que viveu ao lado do marido, Cynthia precisa decidir se leva adiante uma relação notadamente fracassada.


O tom de realismo absoluto imposto pelo roteiro - que incentivou a improvisação dos protagonistas - atinge o nervo sensível de qualquer espectador que já passou por alguma crise no namoro/casamento. Tanto nas belas cenas em que Cynthia e Dean se apaixonam - de uma delicadeza ímpar - quanto nas sequências tensas em que partem para todo tipo de agressão - física, verbal e até mesmo sexual - existe uma verdade rara, dificilmente encontrada em grandes produções comerciais. As cores - e as técnicas de filmagem - com que Ciafrance pinta as idas e vindas do casal também são escolhidas cuidadosamente. O romantismo dos primeiros encontros, onde a vida parecia cor-de-rosa cede espaço à angústia e a dor da percepção inequívoca do fim absoluto através de visuais nitidamente díspares. É importante essa definição clara principalmente porque "Namorados para sempre" é contado alternando as duas épocas - o que, felizmente, funciona aqui às mil maravilhas, explicitando o contraste entre o sonho e a realidade.

"Namorados para sempre" tem cara de filme cult, principalmente por ter tido um orçamento ínfimo - um milhão de dólares - e ter no elenco dois nomes que aparentam ter um futuro brilhante pela frente. Mas mais do que isso, é forte, é triste - é de partir o coração a cena em que Gosling canta para que Williams faça uma apresentação de sapateado nas ruas desertas do Brooklyn - e é uma pequena obra-prima do cinema independente americano. Para ser descoberto e louvado.

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