terça-feira

LOUCA ESCAPADA

LOUCA ESCAPADA (The Sugarland Express, 1974, Universal Pictures, 110min) Direção: Steven Spielberg. Roteiro: Hal Barwood, Matthew Robbins, estória de Steven Spielberg, Hal Barwood, Matthew Robbins. Fotografia: Vilmos Zsigmond. Montagem: Edward M. Abroms, Verna Fields. Música: John Williams. Direção de arte: Joseph Alves Jr.. Produção: David Brown, Richard D. Zanuck. Elenco: Goldie Hawn, Ben Johnson, Michael Sacks, William Atherton, Gregory Alcott, Steve Kanaly. Estreia: 04/4/74

Vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro (Festival de Cannes)

Sabendo que hoje em dia Steven Spielberg é o mais bem-sucedido cineasta da história de Hollywood, com vários filmes listados entre as maiores bilheterias de todos os tempos e dois Oscar de direção na prateleira, é difícil de imaginar que um dia ele já amargou fracassos que poderiam facilmente ter interrompido precocemente sua brilhante carreira. Foi o que aconteceu, por exemplo, com sua estreia na tela grande: vindo do êxito inesperado de seu "Encurralado", feito para a TV e lançado nas salas de cinema graças a seu sucesso junto aos produtores, Spielberg quase viu seu prestígio recém adquirido desabar com "Louca escapada". Baseado em uma história real, o filme, estrelado por uma Goldie Hawn no auge da popularidade - ela havia ganho um Oscar de coadjuvante em 1969 por "Flor de cacto" e voltaria a concorrer como protagonista em "Recruta Benjamin", em 1980 - não conseguiu encantar as plateias e permanece hoje quase como uma joia escondida na filmografia do diretor. Sorte dele que já no ano seguinte as coisas mudariam definitivamente em sua vida - por graça e obra de um assassino dos mares, no blockbuster "Tubarão".

A história contada em "Louca escapada" aconteceu em maio de 1969 e, apesar de ter durado poucas horas na vida real, foi estendida no roteiro do filme para um período de alguns dias, artifício que funciona perfeitamente para estabelecer com mais consistência as relações interpessoais que se desenham no desenrolar da narrativa e para tornar mais verossímil a simpatia que os protagonistas conseguem conquistar das testemunhas do caso - dentro e fora do filme. Demonstrando que já tinha em seus primórdios como cineasta todas as ferramentas para seduzir a plateia com um senso de ritmo e um equilíbrio perfeito entre o drama, a aventura e o humor, Steven Spielberg conduz seu filme sem pressa, dando ênfase a tudo que pode servir para comover a plateia em seu desfecho - a um passo do sentimentalismo, mas coerente com a sua vindoura e milionária carreira.


Goldie Hawn está brilhante como Lou-Jean, uma ex-presidiária desbocada, simpática e inconsequente que, durante uma visita ao marido, Clovis Poplin (William Atherton), na cadeia, tenta convencê-lo a fugir com ela para que juntos consigam recuperar a guarda de seu filho, ainda bebê, das mãos de um casal que pretende adotá-lo. A princípio relutante em seguir a esposa - falta-lhe apenas quatro meses de sentença antes da liberdade - ele acaba cedendo a seus argumentos e eles pegam uma carona com os pais de outro presidiário. As coisas logo começam a dar errado e, depois de uma perseguição, o jovem policial Slide (Michael Sacks) é tomado como refém pelo casal. Não demora para que a polícia do estado do Texas seja comunicada do crime e saia em disparada atrás do agora trio de fugitivos. Conforme o tempo passa e a caçada aumenta - além de começar a ser transmitida via rádio, o que faz dos ouvintes cúmplices simpáticos à causa de Lou-Jean - começa a formar-se uma relação de amizade entre o casal e o policial, mas o Capitão Tanner (Ben Johnson) não está disposto a deixar que as coisas acabem de outro jeito que não o que ele representa: o da lei.

Spielberg dirige "Louca escapada" com despretensão, levando a audiência junto com seus personagens em uma espécie de road-movie inconformista, com protagonistas que se situam à margem do que se pode chamar de establishment. Mesmo que não sejam exatamente pessoas totalmente corretas e honestas, é difícil não se deixar envolver com seu drama e torcer para que consigam atingir seus objetivos. São anti-herois simpáticos, românticos em seu ideal e, como mostram várias cenas, gentis e calorosos um com o outro e até mesmo com o policial que lhes serve de escudo. Não é à toa que, em uma cena sintomática, sejam ovacionados em uma pequena cidade do interior do Texas e ganhem presentes dos moradores, todos torcendo por um final feliz que a cada minuto torna-se mais distante.

"Louca escapada" é um belo primeiro filme - ainda não contando o extraordinário "Encurralado". Mostra todas as qualidades que seu diretor deixaria bastante claro em um futuro bastante próximo e ainda consegue emocionar em seu final - talvez previsível, talvez surpreendente, dependendo do nível de otimismo do espectador. No fundo, é uma bela história de amor à liberdade e à família, mesmo sendo ela formada por pessoas que em um primeiro olhar não sejam exatamente exemplares.

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