sexta-feira

ALTA TENSÃO

ALTA TENSÃO (Bird on a wire, 1990, Universal Pictures, 110min) Direção: John Badham. Roteiro: David Seltzer, Louis Venosta, Eric Lerner, estória de Louis Venosta, Eric Lerner. Fotografia: Robert Primes. Montagem: Frank Moriss, Dallas Puett. Música: Hans Zimmer. Figurino: Eduardo Castro. Direção de arte/cenários: Philip Harrison/Rose Marie McSherry. Produção executiva: Robert W. Cort, Ted Field. Produção: Rob Cohen. Elenco: Goldie Hawn, Mel Gibson, David Carradine, Bill Duke, Stephen Tobolowsky. Estreia: 18/5/90

A ideia, a princípio, é ótima: misturar em um filme direcionado para todos os tipos de audiência uma dose de comédia, bons momentos de ação e alguns toques de romance, além de dois atores queridos e capazes de chamar o público sem fazer muito esforço. A escolha do par central também não é nada errada: Goldie Hawn  estava sumida do cinema desde "Um salto para a felicidade" (87) - filme no qual conheceu Kurt Russell, que se tornou seu marido - e Mel Gibson estava no auge da popularidade graças às cinesséries "Mad Max" e "Máquina mortífera"- além de estar começando a arriscar-se em papéis mais sérios, como o denso "Hamlet", de Shakespeare, adaptado por Franco Zefirelli. Na direção, o pau-pra-toda-obra John Badham, que tinha no currículo de sucessos o musical "Os embalos de sábado à noite" (77) e a comédia "Tocaia" (87). Por que, então, "Alta tensão", o filme que mistura todos esses ingredientes aparentemente tão saborosos, quando é servido à plateia soa como um prato requentado?

Talvez seja o fator "tempo": visto hoje, quase 25 anos depois de sua estreia, o filme de Badham não apresenta nenhuma novidade, seja em sua estrutura que mescla diversos gêneros ou em seu humor, quase inocente (leia-se infantil, apesar de algumas insinuações sexuais que quase passam despercebidas). Pode ser também - e é provavelmente aí que esteja seu maior e mais complicado problema - sua obviedade: as engrenagens do roteiro estão na cara do espectador o tempo todo, que prevê, desde os primeiros minutos de projeção, para onde a história será conduzida. Lógico que esse defeito existe desde que o cinema comercial americano começou a dar as cartas - principalmente quando se trata de comédias românticas - e a plateia muitas vezes não procura exatamente surpresas quando procura um filme do gênero, mas "Alta tensão", apesar de divertir e proporcionar à audiência, exagera na previsibilidade, confiante demais no carisma de seus protagonistas e em seu ritmo enxuto.


A química entre Goldie Hawn e Mel Gibson, aliás, é a maior qualidade do filme, uma comédia ao estilo sessão da tarde que serve como passatempo mas jamais ultrapassa os limites do gênero e do diretor John Badham, que frequentemente se vê tão encantado com sua dupla de protagonistas que esquece em dar mais pimenta à sua trama. Goldie interpreta a bem-sucedida advogada nova-iorquina Marianne Graves, que, viajando a trabalho para o interior do país, dá de cara com um frentista de posto de gasolina que é idêntico a um antigo namorado, morto há quinze anos. Desconfiada do excesso de semelhança entre os dois, ela acaba descobrindo, da pior maneira possível, que Rick Jarmin (Mel Gibson) não apenas não morreu como está na mira de um perigoso traficante de drogas que ele mandou para a cadeia anos antes e que agora, livre, deseja seu fim. Escondido durante todo esse tempo pelo Programa de Proteção À Testemunha do FBI, Jarmin precisa descobrir uma maneira de escapar com vida, e Marianne acaba embarcando na perigosa aventura - para descobrir que nunca deixou de ser apaixonada por ele.

A trajetória de Marianne e Rick atrás de seu protetor dá a oportunidade a John Badham e aos atores de exercitar tanto seu lado cômico quanto o viés da aventura previsto no roteiro - que apesar de esquemático oferece alguns bons momentos à plateia, em especial no clímax em um zoológico, tão esperto quanto divertido. Goldie Hawn e Mel Gibson estão ótimos e David Carradine se esbalda no papel de vilão que lhe cai como uma luva. Pode divertir, mas é pouco quando se sabe quem são os envolvidos. Ainda assim, vale uma espiada sem compromisso.

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