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UMA EQUIPE MUITO ESPECIAL

UMA EQUIPE MUITO ESPECIAL (A league of their own, 1992, Columbia Pictures, 128min) Direção: Penny Marshall. Roteiro: Lowell Ganz, Babaloo Mandel, estória de Kim Wilson, Kelly Kandaele. Fotografia: Miroslav Ondricek. Montagem: Adam Bernardi, George Bowers. Música: Hans Zimmer. Figurino: Cynthia Flynt. Direção de arte/cenários: Bill Groom/George DeTitta Jr.. Produção executiva: Penny Marshall. Produção: Elliot Abbot, Robert Greenhut. Elenco: Tom Hanks, Geena Davis, Lori Petty, Madonna, Rosie O'Donnell, Bill Pullman, David Straithairn, Jon Lovitz, Garry Marshall. Estreia: 01/7/92

No auge da II Guerra, enquanto a maioria dos homens americanos estavam defendendo o país nas trincheiras inimigas, restava às mulheres manter os EUA, até mesmo em funções até então consideradas masculinas. E se nessa época havia fazendeiras, caminhoneiras e empresárias, por que não jogadoras de baseball? Um dos esportes mais amados pelo público ianque, ele estava em sérias dificuldades com o êxodo de seus mais populares jogadores, que estavam jogando por suas vidas nas mais distantes plagas. Com medo de perder as generosas bilheterias que o jogo lhes proporcionava, os empresários tiveram então uma ideia brilhante: criar uma liga feminina de baseball, com o objetivo de manter acesa a chama até o retorno dos (esperava-se) vencedores soldados. Assim começa "Uma equipe muito especial", a divertida comédia que Penny Marshall - diretora dos sucessos "Quero ser grande" (88) e "Tempo de despertar" (90) - fez alcançar mais de 100 milhões de dólares de arrecadação somente no mercado doméstico no verão de 1992. Sucesso de público e crítica, o filme cria uma história de ficção em cima de uma situação verídica (a criação de tal liga) que até então era desconhecida da maior parte dos americanos e faz rir e emociona com um roteiro enxuto escrito pela dupla mais quente da época, Baballo Mandel e Lowell Ganz.

A trama criada pelos roteiristas começa em 1943, no Oregon, quando o descobridor de talentos Ernie Capadino (Jon Lovitz) propõe à talentosa Dotti Hinson (Geena Davis em momento especialíssimo da carreira, acumulando sucesso atrás de sucesso) que o acompanhe para um teste em Chicago: se aprovada, ela entraria em um time de baseball profissional com um salário tentador (ao menos para uma fazendeira cujos dias se resumem a ordenhar vacas, cuidar da casa, esperar que o marido retorne da guerra e ocasionalmente jogar com um grupo de amigas). Dottie a princípio recusa o convite, mas acaba aceitando a proposta, desde que possa levar junto sua irmã caçula, Kit (Lori Petty), com quem mantém uma relação carinhosa porém de certa rivalidade. Em pouco tempo, ambas estão escaladas para serem treinadas por Jimmy Dugan (Tom Hanks, divertidíssimo), que, de uma lenda do esporte acabou por tornar-se um pária por seu vício em álcool. Juntamente com outras mulheres igualmente talentosas, elas encaram o machismo do mundo esportivo - antes de jogadoras elas são tratadas como fêmeas, que precisam saber comportar-se socialmente e manter-se atraentes fisicamente - e iniciam uma bem-sucedida carreira.


O fio condutor da história de "Uma equipe muito especial" - a amizade e a competitividade entre Dotti e Kit - é apenas desculpa para Penny Marshall divertir o público com piadas sutis e ácidas sobre o comportamento feminino da década de 40 e o universo machista e ganancioso do baseball. Enquanto Dotti está vivenciando apenas uma fase de sua vida, que ela pretende que volte aos eixos quando seu marido (Bill Pullman) retornar do conflito, suas colegas tem no jogo e no campeonato o centro de suas existências. É somente ao lado das demais jogadoras que Doris Murphy (Rosie O'Donnell) sente-se enturmada, que a desbocada e liberal Mae Mordabito (Madonna) pode ser quem ela realmente é, que a feiosa Marla (Megan Cavanagh) sente-se valorizada (mesmo que nos documentários sobre o time ela seja sempre filmada de longe para não atrapalhar a ideia de que todas as atletas da liga são bonitas e sensuais). Essa espécie de família que é criada a partir da união entre todas elas é o que dá ao filme seu sabor especial, mesclando momentos de humor com cenas quase comoventes - em especial quando uma das jogadoras recebe a triste notícia da morte de seu marido. Buscando um humor simples e familiar, ela atinge o espectador aos poucos, até mesmo aquele que entende de baseball tanto quanto de física quântica.

"Uma equipe muito especial" talvez seja apenas mais um filme de esportes americanos feito para americanos, mas é impossível negar as qualidades que o fazem conquistar também o público internacional. O timing cômico do roteiro é invejável (todas as cenas com o filho obeso de uma das jogadoras é sensacional), a direção é convencional mas eficaz, a trilha sonora de Hans Zimmer cumpre sua função com louvor (e tem direito até a uma canção feita especialmente por Madonna, "This used to be my playground", que concorreu ao Golden Globe) e o elenco está em dias inspirados. Tom Hanks engordou para o papel e construiu um Jimmy Dugan irascível e ao mesmo encantador; Geena Davis pegou o papel de Debra Winger dias antes do início das filmagens e tornou-se exímia jogadora; e até Madonna sai-se bem como a sexy Mae Topa Tudo (o que dá origem a uma ótima piada). No final das contas, é uma comédia acima da média, capaz de arrancar sorrisos até do mais exigente espectador.

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