terça-feira

DAVE - PRESIDENTE POR UM DIA

DAVE, PRESIDENTE POR UM DIA (Dave, 1993, Warner Bros, 110min) Direção: Ivan Reitman. Roteiro: Gary Ross. Fotografia: Adam Greenberg. Montagem: Sheldon Kahn. Música: James Newton Howard. Figurino: Richard Hornung. Direção de arte/cenários: J. Michael Riva/Michael Taylor. Produção executiva: Michael C. Gross, Joe Medjuck. Produção: Ivan Reitman, Lauren Schuler-Donner. Elenco: Kevin Kline, Sigourney Weaver, Frank Langella, Ving Rhames, Ben Kingsley, Charles Grodin, Laura Linney, Bonnie Hunt. Estreia: 07/5/93

Indicado ao Oscar de Roteiro Original

Do cinismo agridoce de Frank Capra até o realismo controverso de Oliver Stone, a política norte-americana frequentou as telas de cinema com certa regularidade, nem sempre com muita simpatia por parte dos produtores e cineastas - que viam nos filmes a chance de expor seus pontos de vista nem sempre compatíveis com quem estava no poder. Por isso não nada surpreendente que "Dave, presidente por um dia", a simpática e inofensiva comédia de Ivan Reitman lançada em 1993 tenha se tornado, já em seu lançamento, um dos filmes preferidos do então morador da Casa Branca, Bill Clinton. Sem despertar polêmicas e apresentando um personagem principal que refletia a popularidade de Clinton junto aos eleitores, o filme acabou se saindo bem nas bilheterias - rendeu mais de 60 milhões de dólares somente nos EUA - e, o que de resto não é nada mal, chegou ao Oscar, concorrendo à estatueta de roteiro original (que perdeu para o mais sério e mais "artístico" "O piano").

O Dave do título original é o altruísta dono de uma agência de empregos que complementa a renda doméstica servindo de sósia do presidente americano, Bill Mitchell, em feiras agrícolas e eventos afins. Depois de se passar por Mitchell para a imprensa e o público em um grande evento na Casa Branca, porém, ele tem sua vida transformada radicalmente: durante um ato sexual com uma secretária (uma iniciante Laura Linney), o presidente sofre um derrame grave e que o deixa em coma irreversível. Com a aparente intenção de proteger o país de um escândalo de tais proporções, o assistente da presidência, Bob Alexander (Frank Langella caprichando na cara de vilão) convence Dave a assumir o papel de líder da nação por mais algum tempo. No entanto, seus planos - que são bem outros, e incluem afastar o vice-presidente, Nance (Ben Kingsley) do caminho e ser nomeado para o cargo de homem mais poderoso dos EUA - passam a ser ameaçados pela boa índole de Dave, que, influenciado pela boa política da primeira-dama, Ellen (Sigourney Weaver), começa a criar novas medidas de governo que beneficiam a população mais pobre. Tais atitudes o põem em rota de colisão com Alexander, mas o aproximam tanto de Nance quanto de Ellen, que vivia um casamento de aparências e subitamente passa a sentir uma indefinível atração pelo marido.


Escrito por Gary Ross - que posteriormente assinaria também como diretor o belo "A vida em preto-e-branco" (03) - "Presidente por um dia" não é uma comédia de gargalhadas. Seu humor, um tanto mais sofisticado mas popular o bastante para não afastar a plateia avessa a filmes com conotação política, nasce basicamente como uma comédia de erros dos velhos tempos de Frank Capra e Preston Sturgess, com sua inocência devidamente adequada aos anos 90. É assim, por exemplo, que o romance entre Dave e a primeira-dama inconsciente de sua real personalidade começa com um diálogo furioso quando ele está se deliciando com um bom banho quente (nu, portanto) mas nunca ultrapassa as longas conversas, os passeios às escondidas e os olhares apaixonados. Sigourney Weaver, aliás, nunca esteve tão classuda e bonita em cena, a anos-luz de distância da guerreira Tenente Ripley da série "Aliens". Seu timing cômico, mostrado em "Uma secretária de futuro" (88), mantém-se intocado, principalmente ao lado de Kevin Kline, mostrando (mais uma vez) que é um dos atores mais versáteis e talentosos de Hollywood, em papel recusado por Warren Beatty e Kevin Costner e que encontra nele o intérprete ideal. E seu semblante de adorável pateta - que graças à sua ingenuidade consegue conquistar até os mais arraigados rivais políticos - encontra o contraponto perfeito em Frank Langella, sempre competente quando brinca de vilão.

Feito de pequenas piadas - como a participação sensacional de Oliver Stone como ele mesmo, discutindo uma provável conspiração na Casa Branca e a presença de inúmeros políticos comentando os acontecimentos que se desenrolam no roteiro - "Presidente por um dia" é uma comédia à moda antiga: charmosa, esperta e visualmente atraente, além de bem dirigida e interpretada com energia e simpatia. Não muda a vida de ninguém, mas diverte e inspira.

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