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O DOSSIÊ PELICANO

O DOSSIÊ PELICANO (The Pelican Brief, 1993, Warner Bros, 141min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Alan J. Pakula, romance de John Grisham. Fotografia: Stephen Golblatt. Montagem: Tom Rolf, Trudy Ship. Música: James Horner. Figurino: Albert Wolsky. Direção de arte/cenários: Philip Rosenberg/Lisa Fischer, Rick Simpson. Produção: Pieter Jan Brugge, Alan J. Pakula. Elenco: Julia Roberts, Denzel Washington, Sam Shepard, John Heard, Tony Goldwin, James B. Sikking, Stanley Tucci, Hume Cronyn, John Lithgow, Anthony Heald, Cynthia Nixon. Estreia: 17/12/93

Depois de tornar-se a maior estrela surgida em Hollywood no início da década de 90 - e ter sido indicada duas vezes consecutivas ao Oscar - Julia Roberts achou que era hora de dar uma parada: presente mais nas páginas de tabloides sensacionalistas (graças a seu casamento com Kiefer Sutherland desmarcado em cima da hora, seu romance com o ator Jason Patric e posteriormente seu casamento-surpresa com o cantor country Lyle Lovett) do que nos sets de filmagens, a linda mulher que havia encantado os homens e inspirado as mulheres de plateias do mundo inteiro tentava colocar ordem na vida pessoal. Questão resolvida, era hora, então, de voltar ao batente, e para isso nada melhor do que um papel escrito especialmente para ela por um autor em vias de tornar-se o nome mais quente da terra do cinema: John Grisham. Autor do best-seller que deu origem ao filme "A firma" (93), estrelado por Tom Cruise, Grisham criou a protagonista de seu livro seguinte, "O dossiê Pelicano" com Roberts como modelo - não foi preciso muito para que a atriz, lisonjeada, topasse o desafio de encarná-la em seu retorno às telas sem nem mesmo ler a adaptação do romance.

Especializado em uma literatura digestiva, fluente e de pegada fácil, Grisham conquistou milhares de leitores com seus protagonistas, invariavelmente advogados ou estudantes de Direito que se veem forçados a lidar com a ganância e a corrupção do meio em que se instruem. No caso de "O dossiê Pelicano" a bola da vez é Darby Shaw (Julia Roberts, linda e carismática como sempre), uma jovem estudante que, apesar de manter um romance secreto com Thomas Callahan (Sam Shepard) - seu professor e mentor - é dedicada e inteligente o bastante para, sozinha, encontrar o fio da meada de uma conspiração gigantesca (e que envolve membros da Casa Branca) na morte de dois juízes da Suprema Corte. O dossiê que ela escreve apontando os possíveis responsáveis - e que leva o nome de pelicano por causa da ave ameaçada de extinção graças à exploração criminosa de petróleo feita pelos culpados - acaba chegando ao FBI e, consequentemente, ela se vê perseguida e ameaçada de morte. Cercada de violência - que vitima seu amante e qualquer pessoa de quem ela se aproxima - ela recorre a Gray Grantham (Denzel Washington), repórter político em quem ela passa a confiar cegamente.


Acostumado a assinar filmes que tratam de conspirações - são dele "Todos os homens do presidente" (76) e "A trama" - o diretor Alan J. Pakula foi a escolha certa para conduzir "O dossiê Pelicano". Cineasta sóbrio e inteligente, ele consegue extrair sempre o melhor de seu elenco e escolher ângulos improváveis para suas cenas, sejam elas longos diálogos explanativos ou empolgantes correrias dentro de um estacionamento coberto. Mesmo que seu filme seja um tanto longo demais para os padrões comerciais hollywoodianos - quase duas horas e meia de pouca ação e muito papo - ele consegue manter o interesse da plateia graças à tensão construída pela trilha sonora adequada de James Horner, pela fotografia claustrofóbica de Stephen Goldblatt e principalmente pela química entre Julia e Denzel - que foi convencido pela atriz a tomar parte no projeto. É uma bênção, também, que não exista um interesse romântico entre os protagonistas - o que diminuiria o impacto da trama central - e que o final não apele para o clichê da luta corporal entre mocinhos e bandidos. Além disso, Pakula cria alguns momentos brilhantes - como a morte de um dos vilões em pleno parque de diversões e a tentativa de matar Gray e Darby em um carro armado com uma bomba - que amenizam o tom quase morno da narrativa.

Quem está acostumado aos thrillers americanos leva um choque ao assistir a "O dossiê Pelicano": o ritmo é mais lento, o desenvolvimento é menos atropelado e as reações dos personagens são mais críveis do que na maioria dos filmes do mainstream. Ao mesmo tempo que isso qualifica o filme de Pakula como um produto mais inteligente que a média, afasta a plateia que busca adrenalina e a catarse que normalmente acompanha o gênero. Pakula era um diretor elegante, que fugia da violência gratuita, e isso está claro em cada fotograma de seu filme. A história pode não empolgar, mas a qualidade da narrativa é impecável.

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