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O JARDIM SECRETO

O JARDIM SECRETO (The secret garden, 1993, Warner Bros, 101min) Direção: Agnieszka Holland. Roteiro: Caroline Thompson, romance de Frances Hogdson Burnett. Fotografia: Roger Deakins. Montagem: Isabelle Lorente. Música: Zbigniew Preisner. Figurino: Marit Allen. Direção de arte/cenários: Stuart Craig/Stephenie McMillan. Produção executiva: Francis Ford Coppola. Produção: Fred Fuchs, Tom Luddy, Fred Roos. Elenco: Kate Maberly, Heydon Prowse, Andrew Knott, Maggie Smith, John Lynch. Estreia: 13/8/93

Publicado em 1911 pela escritora inglesa Frances Hogdson Burnett, o livro infanto-juvenil "O jardim secreto" acabou se tornando, com o passar do tempo, em um clássico indiscutível do gênero, encantando geração após geração com sua prosa delicada e mágica. Chega a ser surpreendente que, com essa paixão toda de um público constantemente renovado, o romance tenha demorado tanto tempo para chegar aos domínios de Hollywood, sempre tão ávido por potenciais investimentos (adaptações para a televisão já existiam, mas sem maior sucesso). Foi somente em 1993 - mais de oito décadas depois de seu lançamento, portanto - que a história da pequena Mary Lennox finalmente chegou às telas, sob os auspícios do produtor executivo Francis Ford Coppola e a direção da incensada polonesa Agnieszka Holland, vinda do inegável êxito de seu "Filhos da guerra" (90). Visualmente deslumbrante - cortesia da fotografia de Roger Deakins e da bela reconstituição de época de Stuart Craig e Maritt Allen - o filme acabou se tornando, também ele, objeto de estimação de espectadores mais sensíveis.

Apesar de dirigido principalmente a um público mais jovem, "O jardim secreto" não pode ser considerado puramente infantil, especialmente porque a narrativa de Holland mescla com sutileza uma sofisticação onírica que pode fazer o deleite da plateia adulta com os elementos dramáticos que cativaram os leitores mirins por várias gerações. O roteiro de Caroline Thompson - apesar de alterar pequenos detalhes que somente os mais fanáticos pela obra poderão perceber e reclamar - é construído de forma a fisgar o espectador desde suas primeiras cenas e conduzí-lo a um universo feérico, repleto de mistérios e possibilidades inexploradas, além de apresentar personagens cativantes, defendidos por um elenco de estreantes bastante eficaz, começando por Kate Maberly, adorável como a protagonista Mary Lennox. Mary é uma menina inglesa de dez anos de idade que foi criada na Índia pelos pais, a quem pouco via e a quem perde tragicamente em um terremoto. Órfã, ela volta para seu país de origem para ficar aos cuidados de seu único parente, Archibald Crane (John Lynch), um tio que ela desconhece. Tão logo chega à imensa propriedade de Crane - viúvo da tia da garota - Mary percebe que sua rotina de menina mimada está acabada. Praticamente ignorada por seu tio, ela tem contato apenas com a rígida governanta, Sra. Medlock (Maggie Smith, sempre imbatível em papéis de damas severas) e com uma criada, Martha (Laura Crossley), que acaba apresentando-a a seu irmão caçula, Dickon (Andrew Knott) - que, apesar de ser um empregado da mansão, se torna seu melhor amigo.


As tardes de brincadeiras entre Mary e Dickon acabam por levá-los a um misterioso jardim, que pertencia à falecida sra. Crane e que, abandonado desde sua morte, pereceu sem maiores cuidados. Juntas, as duas crianças passam a tratar do local, que se transforma magicamente em um deslumbrante e aprazível cenário. Sua rotina, bem menos sufocante e triste do que era no começo, fica ainda mais colorida quando ela descobre que, além dela, existe outra criança morando na propriedade de seu tio: seu primo Colin (Heydon Prowse), um menino frágil e doente que acredita que, por sua mãe ter morrido em seu parto, não viverá por muito mais tempo. Sem nunca sair da mansão e ver a luz do sol, o menino é tratado como porcelana por Medlock, que irá interpor-se ferozmente à ideia de Mary em levar o primo para brincar em seu jardim - uma ideia aparentemente absurda que mudará a vida de todos na casa.

Sim, a trama de "O jardim secreto" é ingênua quase em excesso. Também tem seu lado melodramático, que pode levar os mais sensíveis às lágrimas e, em alguns momentos, é nitidamente infanto-juvenil. Mas, a despeito de tais características - que não chegam a incomodar, uma vez que tudo é realizado com extremo cuidado e bom-gosto - é um filme para encher os olhos e aquecer o coração. Sem o cinismo que tornou-se moeda corrente no cinema americano desde os anos 80 e dotado de poesia e sentimento, é um filme obrigatório para crianças de todas as idades.

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