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DE CASO COM O ACASO

DE CASO COM O ACASO (Sliding doors, 1998, Intermedia Films/Mirage Enterprises/Miramax, 99min) Direção e roteiro: Peter Howitt. Fotografia: Remi Aderafasin. Montagem: John Smith. Música: David Hirschfelder. Figurino: Jill Taylor. Direção de arte/cenários: Maria Djurkovic. Produção executiva: Guy East, Nigel Sinclair. Produção: Philippa Braithwaite, William Horberg, Sydney Pollack. Elenco: Gwyneth Paltrow, John Hannah, John Lynch, Jeanne Tripplehorn. Estreia: 26/01/98

O que deveria ser apenas mais uma segunda-feira corriqueira na vida da relações-públicas Helen (Gwyneth Paltrow) acaba se tornando um pequeno pesadelo quando ela é demitida do emprego, perde o trem que a levaria de volta para casa e acaba sendo assaltada na rua, chegando em casa logo depois que a amante do namorado vai embora. Porém, por outro lado, tudo poderia ter sido ainda pior se ela tivesse conseguido pegar o trem e, consequentemente, flagrado Gerry (John Lynch) nos braços da fogosa e passional Lydia (Jeanne Tripplehorn), com quem mantinha um romance antes de conhecê-la. Em ambas as situações, porém, ela teria conhecido o simpático James (John Hannah), que tentaria ajudá-la a superar suas crises pessoal e profissional. Essas duas versões de um momento crucial na vida de uma mulher - como se fossem universos paralelos constantemente se cruzando e conduzindo-a a outros caminhos - são a base de "De caso com o acaso", drama romântico estrelado por uma Gwyneth Paltrow pré-Oscar, com sotaque inglês e o charme inabalável. Ficando com o papel originalmente escrito para Minnie Driver, a bela filha da atriz Blythe Danner sai-se muito bem na pele de uma mulher comum abalada por circunstâncias externas que transformam totalmente sua vida.

Com base em uma premissa simples mas explorada com simpatia e leveza, o filme de Peter Howitt - um ator estreando na direção - acompanha com delicadeza as duas trajetórias de Helen, frequentemente dando a impressão de que irá cruzá-las em determinados momentos. Construindo uma estrutura eficiente ainda que previsível, ele permite ao espectador envolver-se paulatinamente com a história, conhecendo aos poucos os detalhes da vida de sua protagonista e compartilhando com ela seus dramas e pequenas realizações. Utilizando com inteligência o artifício de uma mudança de visual para diferenciar as duas Helens - a que se mantém ao lado de Gerry e continua sustentando-o com um novo trabalho de garçonete e aquela que parte em busca de uma nova vida, longe dele e iniciando um promissor romance com James - o cineasta explora também o talento de sua atriz principal em ser econômica e sutil. Longe de ser um filme de grandes dramas e tragédias, afinal, "De caso com o acaso" é uma obra que tenta, sempre que possível, aproximar-se do público através da identificação e da discrição de suas emoções.


Situando sua trama em Londres - o que explica o sotaque de Paltrow e a escolha de John Hannah como galã, uma opção nada óbvia e que de certa forma tanto ajuda quanto atrapalha o resultado final - Peter Howitt faz ótimo uso do belo visual da capital inglesa, com seus dias cinzentos que diferem drasticamente das ensolaradas ruas californianas ou nova-iorquinas que normalmente servem de cenário para filmes do gênero. Assim como as vidas de Helen - em constante mutação e inconstância emocional - os lugares pelos quais ela passa também sofrem com a ação do tempo e do destino, refletindo seu estado de espírito e sua evolução rumo à felicidade. É por isso que o cineasta não hesita em apontar sua câmera em direção a paisagens conhecidas do grande público e para outros pontos menos famosos, mas ainda assim fotogênicos o bastante para merecer um belo enquadramento: ele conta sua história intimista e romântica como uma lenda urbana, sempre deixando a plateia à espera do próximo movimento e da próxima bela sequência. Seu talento fica evidente principalmente no terço final, quando as duas versões da história quase se esbarram, em uma sequência fascinante que amarra com perfeição o roteiro cuidadoso.

Mesmo não sendo um filme perfeito - em parte porque a escalação de seus dois protagonistas masculinos não parece ter sido a mais feliz - "De caso com o acaso" cumpre com louvor a sua função de divertir e encantar. Gwyneth Paltrow - em um ano que ainda a mostraria em "Um crime perfeito" e no oscarizado "Shakespeare apaixonado" - conquista sem fazer esforço e a trilha sonora complementa com simpatia uma produção agradável, ligeira e fascinante, que lida com os problemas cotidianos com leveza e compaixão. Uma bela sessão da tarde.

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