sábado

PROVA FINAL

PROVA FINAL (The faculty, 1998, Dimension Films, 104min) Direção: Robert Rodriguez. Roteiro: Kevin Williamson, história de David Wechter, Bruce Kimmel. Fotografia: Enrique Chediak. Montagem: Robert Rodriguez. Música: Marco Beltrami. Figurino: Michael T. Boyd. Direção de arte/cenários: Cary C. W. White/Jeanette Scott. Produção executiva: Bob Weinstein, Harvey Weinstein. Produção: Elizabeth Avellan. Elenco: Josh Hartnett, Jordana Brewster, Shawn Hatosy, Usher Raymond, Elijah Wood, Salma Hayek, Robert Patrick, Clea DuVall, Famke Janssen, Piper Laurie, Christopher McDonald, Bebe Neuwirth, Jon Stewart. Estreia: 12/11/98

Depois do enorme sucesso de "Pânico" e seus assemelhados, o terror adolescente retomou o fôlego e voltou a frequentar as salas de cinema, assustando o público-alvo e enchendo os cofres dos estúdios. Nem todos, porém, tiveram a mesma sorte do filme de Wes Craven, mesmo contando com seu roteirista-xodó Kevin Williamson - que também estava na moda graças ao seriado de TV "Dawson's Creek". Nem mesmo seu nome nos créditos de "Prova final", por exemplo, ajudou o filme a empolgar quando de sua exibição nos cinemas. Dirigido pelo mexicano Robert Rodriguez - conhecido por ter realizado seu "El Mariachi" por meros sete mil dólares - o filme utilizava a mesma fórmula dos trabalhos anteriores de Williamson (elenco jovem em ascensão, sacadas bem-humoradas de cultura contemporânea, suspense leve e citações à clássicos do gênero), mas acrescentava um novo elemento à mistura: ficção científica. Em uma época em que o seriado "Arquivo X" mobilizava multidões diante da televisão, parecia um receita infalível. Não foi. Mesmo tendo rendido mais de 40 milhões de dólares no mercado americano - contra um custo de meros 15 milhões - o filme ficou bem longe dos inesperados 100 milhões arrecadados pelo primeiro capítulo da série estrelada por Neve Campbell. Tal fracasso, porém, não reflete a qualidade do produto final: mesmo não sendo uma obra-prima (nem tampouco o melhor filme de Rodriguez), "Prova final" é um entretenimento divertido e eficaz.

A trama é puro "Os invasores de corpos", substituindo uma cidade do interior por uma escola secundária, também do interior dos EUA. É lá, na Harrington High School, que as coisas começam a parecer muito suspeitas quando os professores passam a agir de maneira estranha: de uma hora pra outra, o treinador Joe Willis (Robert Patrick) passa a beber água em excesso, a diretora Karen Olson (Piper Laurie) muda o jeito de vestir e andar, e até mesmo a simpática Elizabeth Burke (Famke Janssen) se transforma em outra pessoa. Quem primeiro percebe as diferenças - que já estão se estendendo para vários alunos, depois de uma misteriosa sessão de vacina - é Delilah Profitt (a brasileira Jordana Brewster), editora do jornalzinho da escola, que procura um furo para a próxima edição. Sua desconfiança de que algo muito errado está acontecendo é confirmada quando ela testemunha, ao lado de seu apaixonado secreto, o nerd Casey Connor (Elijah Wood), dois professores transformando uma colega em mais uma vítima. Com a teoria de que todos estão tendo suas reais personalidades substituídas como forma de dominação alienígena, eles se unem a uma voraz leitora do gênero, Stokes (Clea DuVall), o popular jogador de futebol da equipe da escola, Stan (Shawn Hatosy) e o malandro de plantão, Zeke (Josh Hartnett) - que vive de pequenos tráficos dentro do estabelecimento - para acabar com a invasão iminente. A única novata no grupo é Marybeth (Laura Harris), recém-chegada à cidade.


Sem alterar muito a estrutura de seus roteiros, Kevin Williamson volta a utilizar-se de arquétipos adolescentes para povoar sua trama central, como forma de atingir seu público-alvo de todas as maneiras possíveis. Sendo assim, ele lança mão do galã cobiçado, da patricinha desmiolada, do nerd deslocado, da gatinha inteligente, da desajustada cínica e do rebelde sem causa como heróis de uma trama improvável, mas contada de forma fluente e com um perfeito senso de ritmo e suspense. Equilibrando em seu texto sequências de violência moderada - tudo de olho na bilheteria - e citações divertidas a "Independence Day" e à própria "Arquivo X", entre outras, "Prova final" peca apenas por assustar de menos. Enquanto "Pânico", mesmo com suas piadas metia medo na plateia, o filme de Rodriguez muitas vezes parece estar apenas interessado em afirmar a grife de Williamson, enfatizando suas características mais do que sua história. Além disso, nem mesmo um diretor criativo como Rodriguez consegue o milagre de arrancar interpretações decentes de Josh Hartnett e Jordana Brewster.

Sem conseguir uma equipe de atores adolescentes coesa - na qual destaca-se Elijah Wood muito antes da trilogia "O Senhor dos Anéis" - Robert Rodriguez teve que contentar-se com um elenco jovem de atores com potencial para futuros astros. Hartnett até conseguiu emplacar outros trabalhos (inclusive com o próprio Rodriguez e o blockbuster "Pearl Harbor"), mas é de uma inexpressividade criminosa. Jordana Brewster, de mãe brasileira, chegou a ser comparada com Demi Moore, mas além de filmes da série "Velozes e furiosos" não foi além na carreira. Apenas Clea DuVall e Shawn Hatosy seguiram adiante, fazendo filmes menores de diretores respeitados, mas mesmo assim sem o destaque que se esperava. Sendo assim, a Rodriguez coube a tarefa de brincar com os atores mais experientes - que parecem se divertir em cena - como Robert Patrick e Piper Laurie, e deitar e rolar com os efeitos visuais e de maquiagem, eficientes a ponto de esconder o orçamento modesto.

Ainda que não seja um excelente filme de ficção científica - está mais para "Dawson's Creek" do que para "Arquivo X" - "Prova final" é uma diversão com a assinatura assumidamente trash e barata de Robert Rodriguez, um dos poucos diretores que, mesmo no esquema de Hollywood, manteve-se fiel a suas origens simples. É uma sessão da tarde das mais apetitosas.

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