terça-feira

A CELA

A CELA (The cell, 2000, New Line Cinema, 107min) Direção: Tarsem Singh. Roteiro: Mark Protosevich. Fotografia: Paul Laufer. Montagem: Robert Duffy, Paul Rubell. Música: Howard Shore. Figurino: Eiko Ishioka, April Napier. Direção de arte/cenários: Tom Foden/Tessa Posnansky. Produção executiva: Donna Langley, Carolyn Manetti. Produção: Julio Caro, Eric McLeod. Elenco: Jennifer Lopez, Vince Vaughn, Vincent D'Onofrio, Dylan Baker, Marianne Jean-Baptiste, Gerry Becker, Patrick Bauchau, Musetta Vander. Estreia: 17/8/00

Indicado ao Oscar de Maquiagem

Como seria a visão da mente de um psicopata através dos olhos de um diretor de videoclipes que tem como seu trabalho mais conhecido o bizarro e genial "Losing my religion", da banda R.E.M.? A resposta é o filme "A cela", ficção de suspense estrelada por Jennifer Lopez, que a despeito de por vezes descuidar-se do roteiro para concentrar-se em seu visual deslumbrante, é um exemplar dos mais interessantes do gênero a surgir no normalmente engessado mercado hollywoodiano. Angustiante, tenso e fascinante, o filme do indiano Tarsem Singh é uma viagem sensorial que explora a beleza de Lopez em contraste com os cenários surreais e o figurino criativo da premiada Eiko Ishioka (de "Drácula de Bram Stoker"), que refletem o tortuoso raciocínio de uma personalidade doentia. Indicado ao Oscar de maquiagem - merecia também nas categorias de direção de arte e figurino - o filme também é uma mostra da coragem de Lopez em investir em produções que não a explorassem unicamente como símbolo sexual.

Não exatamente uma Meryl Streep, Jennifer Lopez é uma atriz decente e esforçada - além de saber escolher com quem trabalha, haja visto que em seus anos iniciais em Hollywood ela foi dirigida por nomes consagrados como Francis Ford Coppola ("Jack"), Steven Soderbergh ("Irresisível paixão") e Oliver Stone ("Reviravolta"). Revelada pela indicação ao Golden Globe por seu desempenho em "Selena" (a história real da cantora de origem latina que foi assassinada pela presidente do seu fã-clube quando estava começando a fazer sucesso), JLo, também uma cantora pop bem-sucedida, nem precisa se esforçar muito no papel principal de "A cela": como a psicoterapeuta Catherine Deane, adepta de um novo tipo de tratamento que consiste em adentrar a mente dos pacientes para tentar livrá-los de seus traumas, ela acaba se tornando coadjuvante de um filme cujo visual acachapante é a maior virtude. Ainda assim, seu carisma e beleza tornam impossível que ela passe despercebida em meio às acrobacias visuais promovidas pelo diretor.


A psicoterapeuta interpretada por Lopez já começa o filme sofrendo um baque na carreira, quando os pais de um menino em coma de que ela vem cuidando há algum tempo resolvem tentar um tratamento mais ortodoxo. Não é pra menos: com a assistência dos doutores Henry West (Dylan Baker) e Miriam Kent (Marianne Jean-Baptiste), ela vem desenvolvendo uma terapia bastante controversa, onde penetra no subconsciente dos pacientes através de um sistema computadorizado que dá acesso aos mais obscuros cantos da mente. Frustrada com a interrupção do tratamento do garoto, ela é procurada por um grupo de agentes do FBI que lhe pedem ajuda em um caso atípico e assustador: responsável pela morte de várias mulheres, o serial killer Carl Stargher (Vincent D'Onofrio) está nas mãos da polícia, mas, por um golpe do destino, é incapaz de apontar a localização de sua última vítima, já que entrou em um coma irreversível no momento de sua captura. Ainda viva segundo os cálculos da polícia, Julia Dickson (Tara Subkof) ainda pode sobreviver, mas para isso é preciso que seu paradeiro seja descoberto o quanto antes. Sendo assim, Catherine aceita o desafio de entrar no mundo do psicopata Stargher - e o que encontra lá é mais do que sinistro: é um pesadelo em tempo integral.


Prejudicado pela presença sempre anódina e aparvalhada de Vince Vaughn - na pele do detetive Peter Novak - "A cela" brilha sempre que apresenta ao espectador a visão toda particular de Tarsem Singh do apavorante mundo de seu psicopata. Em cores fortes e vibrantes que o aproximam perigosamente do kitsch mas ao mesmo tempo seduzem o espectador de forma quase hipnótica, os cenários criados por Tom Folden e Tessa Posnansky são dos mais extraordinários de seu tempo, mesclando uma atmosfera de sonho intenso com um clima claustrofóbico de deixar qualquer um desconfortável na poltrona. Uma pena, porém, que o roteiro não siga o mesmo tom criativo, apelando para todos os clichês psicanalíticos possíveis e imagináveis para explicar o comportamento violento do vilão - aliás, interpretado com gosto pelo excêntrico Vincent D'Onofrio. Esse senão é o que fragiliza o resultado final, impedindo que o primeiro longa-metragem de Tarsem se torne a pequena obra-prima que poderia ser. Ainda assim, é um filme que merece ser conhecido e aplaudido por suas inúmeras qualidades.

Um comentário:

Leia-me Já! disse...

Confesso que tenho certa antipatia por Jennifer Lopez como atriz, mas nem isso conseguiu diminuir meu fascínio pelo filme. Muito bom!

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