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O SUSPEITO DA RUA ARLINGTON

O SUSPEITO DA RUA ARLINGTON (Arlington Road, 1999, Screen Gems/Lakeshora Entertainment, 117min) Direção: Mark Pellington. Roteiro: Ehren Kruger. Fotografia: Bobby Bukowski. Montagem: Conrad Buff IV. Música: Angelo Badalamenti. Figurino: Jennifer Barrett-Pellington. Direção de arte/cenários: Thèrese DePrez/Barbara Haberecht. Produção executiva: Tom Rosenberg, Sigurjon Sighvatsson, Ted Tannenbaum. Produção: Tom Gorai, Marc Samuelson, Peter Samuelson. Elenco: Jeff Bridges, Tim Robbins, Joan Cusack, Hope Davis, Robert Gossett, Mason Gamble, Spencer Treat Clark. Estreia: 19/3/99

Dois anos antes dos atentados que devastaram os EUA - e consequentemente o mundo inteiro - o medo do terrorismo já rondava a mente dos executivos de Hollywood, ainda que banhadas pelo verniz da ficção. Porém, um dos filmes que ousavam mexer em tal ferida (que ainda seria uma das mais doloridas e assustadoras da história) teve uma recepção apenas morna quando estreou, no início de 1999. Dirigido por Mark Pellington - oriundo do mundo dos videoclipes, onde comandou nomes de peso como U2 e Pearl Jam - "O suspeito da Rua Arlington" escancarava a paranoia ianque como poucos filmes de sua época, construindo um suspense crescente que enfatizava com seriedade um dos maiores medo da sociedade: a possibilidade de estar bem mais perto do inimigo do que se poderia imaginar (ou desejar).

Tudo começa com uma sequência impressionante, que mostra um menino chegando tropegamente à casa onde mora, com a mão esquerda mutilada violentamente. Quem o socorre é Michel Faraday (Jeff Bridges), professor de História Americana na Universidade George Washington e que, por coincidência, mora na mesma rua. No hospital, Faraday fica sabendo que o garoto se chama Brady e é um dos filhos de um casal de vizinhos, o engenheiro Oliver Lang (Tim Robbins) e a dona-de-casa Cheryl (Joan Cusack). Ainda traumatizado pela inesperada morte da esposa, agente do FBI morta em serviço, Faraday está aos poucos se envolvendo em um novo romance, com a ex-assistente Brooke (Hope Davis) e sente-se aliviado ao perceber que seu único e solitário filho, Grant (Spencer Treat Clark), finalmente está se enturmando com Brady. As duas famílias aos poucos iniciam uma amizade repleta de churrascos aos fins-de-semana e jantares íntimos, até que, por um acaso do destino, o professor passa a desconfiar que Lang não é quem diz ser: investigando algumas informações incoerentes, ele chega à conclusão (não confirmada nem mesmo pelo colega de sua falecida esposa) de que o misterioso engenheiro é, na verdade, um terrorista - e que tem planos aterrorizantes.


Ao modo hitchcockiano de contar uma história, o cineasta Mark Pellington introduz aos poucos toda a aura de mistério e paranoia que cerca Michael Faraday, transformando-o em mais um heroi desacreditado por todos à sua volta até que as evidências tornam-se mais e mais próximas da verdade. Sublinhado pela trilha sonora eficiente do veterano Angelo Badalamenti - habitual colaborador de David Lynch - o medo do protagonista vai se acentuando conforme o cerco se fecha em torno de si, envolvendo sem piedade seu filho e a namorada, que acabam se tornando vítimas inocentes de sua paranoia. Uma pena, porém, que assim que a verdade finalmente esteja diante do espectador - e ela chega de forma inteligente e sem pressa - o roteiro resolva mudar o tom, transformando um suspense sofisticado e sufocante em um filme de ação que, apesar de bem dirigido e editado, inevitavelmente perde sua aura de sutileza para metamorfosear-se em um thriller bem menos incomum - e consertar a sensação de decepção com um final ousado e surpreendente.

Contando com a ajuda mais do que especial de uma dupla de atores capazes de dar credibilidade a qualquer história, Mark Pellington não hesita em concentrar-se em seus inspirados trabalhos para enfatizar todas as nuances de sua trama. Enquanto Jeff Bridges brilha mais uma vez como o heroi incompreendido cujo desespero aumenta a cada cena (é emocionante a sequência em que ele relembra a estúpida morte da esposa, em um flashback inserido corretamente na edição), Tim Robbins deita e rola com seu dúbio Oliver Lang, um homem cuja verdade só é revelada ao espectador no terço final de exibição - e que até lá consegue manter uma dúvida angustiante sobre sua vida pregressa. Vale ressaltar também a atuação imprevisível de Joan Cusack, mostrando que, por trás de uma comediante de mão cheia existe uma atriz de muitos recursos dramáticos.

Inteligente, empolgante e sério, "O suspeito da Rua Arlington" é um dos mais importantes filmes de suspense do final dos anos 90, que antecipava de forma trágica a atmosfera de medo e paranoia que tomaria conta dos EUA em pouco tempo.

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