quarta-feira

INSÔNIA

INSÔNIA (Inmsonia, 2002, Alcon Entertainment, 118min) Direção: Christopher Nolan. Roteiro: Hilary Seitz, roteiro original de Nikolaj Frobenius, Erik Skjoldbjaerg. Fotografia: Wally Pfister. Montagem: Dody Dorn. Música: David Julyan. Figurino: Tish Monaghan. Direção de arte/cenários: Nathan Crowley/Peter Lando. Produção executiva: George Clooney, Kim Roth, Charles J.D. Schlissel, Steven Soderbergh, Tony Thomas. Produção: Broderick Johnson, Paul Junger Witt, Andrew A. Kosove, Edward L. McDonnell. Elenco: Al Pacino, Robin Williams, Hilary Swank, Martin Donovan, Maura Tierney, Nicky Katt, Paul Dooley. Estreia: 03/5/02 (Festival de Tribeca)

Christopher Nolan ainda não era o cineasta reconhecido por ter transformado Batman em uma das mais lucrativas séries da história do cinema quando assumiu a direção de "Insônia", refilmagem de um suspense sueco que reunia três atores vencedores do Oscar - Al Pacino, Hilary Swank e Robin Williams, este último exercitando sua escolha por papéis de vilão que direcionou sua carreira depois de alguns fracassos de bilheteria. A escolha de Nolan para a direção, no entanto, não foi gratuita: quando entrou no projeto, ele já havia assinado um filme policial que deixou de queixo caído a crítica e o público, além de ter concorrido ao Oscar de roteiro original, o fabuloso "Amnésia". Talentoso, criativo e ousado, o cineasta transformou uma trama policial comum em um instigante estudo sobre culpa, obsessão e ética que, mesmo sem ter sido um estrondo de bilheteria mostrou que o diretor tinha a manha de conseguir injetar qualidade e inteligência a um entretenimento popular - o que se comprovaria com os filmes do homem-morcego e seus demais trabalhos.

Para adaptar a trama a uma lógica convincente, "Insônia" teve o cenário de seu original - a Suécia - transferido para uma pequena cidade do Alasca chamada Nightmute. É para lá que se dirigem dois policiais de Los Angeles, Will Dormer (Al Pacino, fenomenal) e Hap Eckhart (Martin Donovan), com o objetivo de investigar o assassinato de uma adolescente local. Entre interrogatórios com os colegas e familiares da vítima, Dormer e Hap contam com a ajuda de dois colegas locais, a dedicada Ellie Burr (Hilary Swank) e o caipira Fred Duggar (Nicky Katt), que ignoram o fato de que os dois forasteiros estão passando por um turbilhão profissional: Hap está em vias de revelar a seus superiores irregularidades cometidas por seu parceiro em um caso antigo e tal possibilidade está deixando sua amizade em uma perigosa corda-bamba. Quando, durante a perseguição a um dos suspeitos do crime Dormer mata o colega com um tiro, ele entra em uma séria crise de insônia, agravada pelo fato de a cidade não ter noites. Para piorar a situação, ele passa a ser chantageado pelo criminoso, o escritor de livros de suspense Walter Finch (Robin Williams), que testemunhou o acontecido e ameaça denunciar-lhe por homicídio.


Um suspense policial bem construído e centrado em personagens fortes mais do que em uma trama rocambolesca, "Insônia" mergulha o espectador em um universo claustrofóbico de mentiras, meias-verdades e tênues divisões entre o bem e o mal, sublinhadas por diálogos de substância e uma direção firme, que nunca resvala para o clichê. Concentrando seu foco nas relações entre Dormer e Finch - e sua possível conexão forjada através das mortes a que estão ligados - e entre Dormer e a idealista Ellie Burr - que vê nele um exemplo a ser seguido até que passa a desconfiar que seu herói tem tantos defeitos quanto qualidades e se vê diante de um dilema ético e moral - o roteiro de Hilary Seitz (que sofreu alterações feitas pelo próprio Nolan) desvia-se com segurança da linha de investigação criminal que lhe jogaria fatalmente na vala das produções banais do gênero para buscar mais consistência dramática - sem nunca deixar de lado, porém, o tom de tensão necessário para manter o espectador grudado na poltrona. Ao mesmo tempo em que acompanha o trabalho policial dos personagens, o público é brindado com uma história séria e intensa a respeito dos meandros da lei e de como é flexível o limite entre o certo e o errado quando o assunto é a violência.

E para sorte de Nolan o elenco responde à altura do roteiro, com interpretações que dão o peso exato à cada diálogo e à cada cena. Se Hilary Swank pouco tem a fazer com sua personagem até o terço final, quando torna-se peça fundamental para o desfecho, Robin Williams e Al Pacino - especialmente o último - dão um show à parte, elevando o nível do filme bem acima da média do gênero. A conversa entre policial e criminoso em um barco, por exemplo, é hipnótica e é um exemplo perfeito da química espetacular entre os dois grandes atores em um ótimo momento de suas carreiras, assim como a ótima sequência em que um devastado Dormer confessa à gerente do hotel onde está hospedado (e tentando dormir há dias, sem sucesso) os fatos trágicos que levaram à morte de seu parceiro. É drama de primeira, unido a uma história policial que não subestima a inteligência da plateia. Mesmo sem o brilhantismo dos filmes posteriores de Nolan, é um passatempo de primeira categoria.

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