quinta-feira

O PIANISTA

O PIANISTA (The pianist, 2002, R.P. Productions/Heritage Films, 150min) Direção: Roman Polanski. Roteiro: Ronald Harwood, livro de Wladyslaw Szpilman. Fotografia: Pawel Edelman. Montagem: Hervé de Luze. Música: Wojciech Kilar. Figurino: Anna Sheppard. Direção de arte/cenários: Allan Starski/Wieslawa Chojkowska, Gabrielle Wolff. Produção executiva: Timothy Burrill, Henning Molfenter, Lew Rywin. Produção: Robert Benmussa, Roman Polanski, Alain Sarde. Elenco: Adrien Brody, Thomas Kretschmann, Emilia Fox, Michal Zebrowski, Ed Stoppard, Maureen Lipman. Estreia: 24/5/02 (Festival de Cannes)

7 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Roman Polanski), Ator (Adrien Brody), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Figurino
Vencedor de 3 Oscar: Diretor (Roman Polanski), Ator (Adrien Brody), Roteiro Adaptado
Palma de Ouro (Melhor Diretor) no Festival de Cannes: Roman Polanski

Diretor de obras aclamadas e queridas pela crítica e pelo público, como "O bebê de Rosemary" (68) e "Chinatown" (74), o polonês Roman Polanski - cuja vida pessoal é tão ou mais trágica e atribulada do que as tramas de seus trabalhos para as telas - declarou, em um documentário de 2011 chamado "Roman Polanski: a film memoir" que, dentre todos os seus filmes, o seu preferido é "O pianista", que ele lançou no Festival de Cannes de 2002 e que lhe rendeu a Palma de Ouro e o Oscar de melhor diretor. Não é para menos: assim como "A lista de Schindler" serviu para que Steven Spielberg fizesse as pazes com suas origens judaicas - e com a Academia - a história real do músico Wladyslaw Szpilman foi a desculpa perfeita para que Polanski (que perdeu a mãe em um campo de concentração durante a II Guerra Mundial) também voltasse os olhos para um período negro de sua vida como forma de catarse. O resultado é, em contraste com a força sentimental do filme de Spielberg, um retrato seco e cruel ao estilo pouco lírico do diretor que quase acabou com a festa de "Chicago" na cerimônia do Oscar de 2003 - além de Polanski, foram premiados o roteiro de Ronald Harwood e a atuação minimalista de Adrien Brody, que, aos 29 anos, tornou-se o mais jovem premiado da categoria.

Desde a primeira sequência - em que Szpilman mantém-se concentrado em terminar a peça musical que está tocando mesmo com a explosão de bombas que ameaçam o prédio da emissora de rádio onde trabalha, na Polônia de 1939 - fica claro que a intenção de Brody e Polanski é enfatizar a paixão do protagonista por sua arte, independente das circunstâncias nefastas que o cercam. Assim como todos os judeus de sua Varsóvia - incluindo sua família - ele se vê repentinamente privado de suas propriedades, de sua honra e de seus direitos de cidadão. Conforme a situação vai gradativamente piorando, ele vê famílias sendo destruídas, pessoas sendo assassinadas cruelmente nas ruas e, chocado, presencia a transferência de centenas de conhecidos para campos de concentração. Por obra do acaso - na figura de um amigo que o livra de tal destino - ele arruma emprego como pianista de um restaurante, mas logo é obrigado a levar uma vida clandestina, fugindo e se escondendo da impiedosa polícia nazista enquanto testemunha com cada vez maior pavor o aniquilamento de sua antiga vida.


Fotografado em tons cinzentos que contribuem para sublinhar o tom pessimista e melancólico da história, "O pianista" abdica das cenas lacrimosas para mostrar com austeridade os horrores da guerra sob o ponto de vista de uma de suas vítimas. Com seu olhar perdido e o ar desesperado, Szpilman atravessa a calamitosa - e longa - fase de sua vida não como um herói, mas como uma pessoa comum, um homem incapaz de fugir das armadilhas que lhe surgem pela frente sem sofrer na alma cada perda e cada angústia. A interpretação de Brody - frequentemente silenciosa e intimista - encaixa com perfeição na quase passividade do personagem, que justamente por não lutar contra a tempestade que cai em seus ombros chega quase a enervar a plateia. É mérito dele que haja o envolvimento emocional com a forma quase documental com que o roteiro é tratado - inclusive Polanski mesmo incluiu nos relatos de Szpilman suas próprias recordações de acontecimentos que presenciou na infância, o que aprofunda ainda mais a experiência dolorosa que é assistir-se ao filme.

"O pianista" é um filme forte, intenso e cruel, como toda a obra de Roman Polanski. Porém, é ainda mais excruciante por tratar de maneira realista e desprovida de sentimentalismo um período de trevas e dor que dizimou a vida e a esperança de milhares de pessoas. Talvez seja mal-entendido por aqueles que esperavam um novo "A lista de Schindler", mas é, ao lado dele, um dos mais poderosos retratos do holocausto e dos crimes da II Guerra Mundial, visto por quem estava dentro do furacão. De inegável impacto, não surpreende ser o preferido de seu autor.

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