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WOLF CREEK - UMA VIAGEM AO INFERNO

WOLF CREEK, VIAGEM AO INFERNO (Wolf creek, 2005, Australian Film Finance Corporation, 99min) Direção e roteiro: Greg McLean. Fotografia: Will Gibson. Montagem: Jason Ballantine. Música: François Tétaz. Figurino: Nicola Dunn. Direção de arte/cenários: Robert Webb. Produção executiva: George Adams, Martin Fabinyi, Michael Gudinski, Gary Hamilton, Simon Hewitt. Produção: Greg McLean. Elenco: John Jarratt, Cassandra Magrath, Kestie Morassi, Nathan Phillips. Estreia: 17/5/05 (Festival de Cannes)

O gênero terror vive de ciclos, e isso não é novidade para ninguém. Nos anos 70 surgiram as produções inspiradas pelo sucesso de "O exorcista" - e dá-lhe filmes que misturavam sangue à teorias religiosas. Nos anos 80, Freddy Krueger, Jason e Michael Meyers assustaram multidões de adolescentes sanguinários nos vários capítulos de "A hora do pesadelo", "Sexta-feira 13" e "Halloween" - estilo ressuscitado com sucesso por Wes Craven no final da década seguinte. Novo século, novo ciclo, e o público que gosta de sentir medo no escurinho do cinema foi brindado, então, com uma série de filmes calcados na realidade e - no caso de alguns, até mesmo inspirados em fatos reais. Surgiram, então, "Viagem maldita" (refilmagem de "Quadrilha de sádicos", do próprio Wes Craven), "O massacre da serra elétrica" (também um remake, dessa vez de um filme de Tobe Hopper) e o único inédito da fornada, o australiano "Wolf Creek, viagem ao inferno", que fez sua estreia mundial no prestigioso Festival de Cannes 2005. Estrelado por atores jovens desconhecidos e seguindo à risca os mandamentos do gênero e do estilo, o filme de Greg McLean (também roteirista e produtor) não faz feio em comparação com seus parentes mais próximos, mas ao mesmo tempo peca por não apresentar nenhuma novidade para quem está acostumado a ver psicopatas caipiras trucidando jovens fotogênicos.

Baseado em uma história real que acabou nos tribunais australianos, "Wolf Creek" começa com um ensolarado roadmovie, que acompanha a viagem empreendida em 1999 por três amigos dispostos a viajar pelo deserto australiano com pouco dinheiro e um carro recém-comprado: o extrovertido Ben Mitchell (Nathan Phillips) e as duas britânicas Kristy (Cassandra Macgrath) e Liz (Kastie Morassi) embarcam na aventura com o objetivo de aproveitar as férias, a juventude e a liberdade, mas acabam conhecendo o terror mais absoluto quando seu carro estraga em pleno Wolf Creek, uma cratera localizada em um parque nacional isolado e um tanto sinistro. Aliviados com a ajuda de um solicito morador local, Mick Taylor (John Jarratt), eles não demoram a perceber que estão diante de um sádico assassino - com uma coleção de vítimas comprovada por pedaços de cadáveres expostos em sua garagem.


Por demorar um tanto mais do que o esperado para realmente começar, "Wolf Creek" pode ser uma prova de paciência ao espectador mais afoito. Porém, quando o terror realmente começa, é difícil ficar incólume à violência retratada pelo diretor, que não hesita em mostrar torturas da forma mais explícita possível sem que seja obrigado a cair no voyeurismo cinematográfico que fez a fama de nomes como Eli Roth (do nauseante e sem razão de ser "O albergue"). A princípio apenas mais um filme que abusa do sangue e da violência para conquistar uma plateia ávida por tais elementos, a obra de Greg McLean toma cuidado em buscar ângulos inusitados, fugindo dos enquadramentos clássicos do gênero imprimindo a ele uma modernidade muito bem-vinda, ainda que, sob os olhos dos fãs, desnecessária. Mesmo que se dedicasse a filmar exclusivamente o monstruoso Mick Taylor torturando suas vítimas indefesas, é pouco provável que alguém que procura exatamente cenas como essas saia da sessão decepcionado. A partir do momento em que o simpático mecânico começa sua escalada de terror resta ao público encolher-se na poltrona e aproveitar a tensão propiciada pelo roteiro e pela entrega dos atores, muito bem escolhidos - e dedicados em sua missão de aterrorizar a audiência.

Enquanto as belas Cassandra Magrath e Kastie Morassi capricham nos pulmões - relembrando os bons tempos de Jamie Lee Curtis em "Halloween" - e o simpático Nathan Phillips sofre um calvário particular quando cruza o caminho de Mick Taylor (com direito até mesmo a ser pregado em uma parede, em uma sequência particularmente tensa), é o ator John Jarratt quem rouba o espetáculo na pele do psicótico vilão. Caprichando na risada enloquecida e na composição visual desleixada (que o deixa ainda mais assustador), Jarratt - então apresentador de um programa de jardinagem na tv australiana - entrou na pele do personagem a ponto de manter-se nele mesmo quando não estava em cena, criando inclusive um detalhado passado para ele, mesmo que ninguém do elenco (ou o próprio diretor e roteirista) tenham ficado sabendo o que constava nesse passado. Aliás, apesar da inspiração na vida real, McLean insistiu em afirmar, no lançamento de sua obra, que havia tomado muitas liberdades em relação à história verdadeira, para ter mais liberdade criativa. Mas, verdade ou não, "Wolf Creek" cumpre muito bem o seu papel de apavorar sua plateia.

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