quinta-feira

O PALHAÇO

O PALHAÇO (O palhaço, 2011, Bananeira Filmes/Globo Filmes, 88min) Direção: Selton Mello. Roteiro: Selton Mello, Marcelo Vindicato. Fotografia: Adrian Tejido. Montagem: Selton Mello, Marília Morales. Música: Plinio Profeta. Figurino: Kika Lopes. Direção de arte: Cláudio Amaral Peixoto. Produção executiva: Vânia Catani. Elenco: Selton Mello, Paulo José, Larissa Manoela, Giselle Motta, Teuda Bara, Álamo Facó, Cadu Fávero, Fabiana Karla, Danton Mello, Moacyr Franco, Erom Cordeiro, Jorge Loredo, Ferrugem. Estreia: 28/10/11

Em 2008, o ator Selton Mello lançou seu primeiro longa-metragem como diretor, o denso "Feliz natal". Quem achava que o sucesso crítico do filme era apenas sorte de principiante deve ter ficado de boca aberta com sua segunda incursão para trás das câmeras: "O palhaço" revela em Selton um cineasta seguro, honesto e principalmente sensível às relações humanas. É simplesmente impossível não encantar-se com essa pequena pérola do cinema nacional, injustamente preterida pela Academia e deixada de lado na disputa pelo Oscar de produção estrangeira.

O jovem Benjamin (vivido pelo próprio Mello) está passando por uma grave crise de identidade. Apresentando-se pelo interior do Brasil (em especial Minas Gerais, terra do ator e diretor) com o circo Esperança - na pele do palhaço Pangaré, ao lado do pai, Puro Sangue (Paulo José, fantástico) e de um trupe de personagens felinnianos - ele sente que não está mais feliz ("quem vai me fazer rir?", ele pergunta melancólico a uma fã com segundas intenções). Sem carteira de identidade, nem CPF e muito menos comprovante de residência, ele sente-se solitário, perdido e desprovido de qualquer real motivação para manter-se na vida artística. Enquanto tenta encontrar um caminho - e sua paixão por ventiladores tanto pode significar a eterna busca circular pelos sonhos, como disse o cineasta, como a ideia da necessidade de um pouco de ar - Benjamin acompanha seus colegas por cidadezinhas tristes, modorrentas e áridas, que remetem ao país retratado na poesia brutal de "Central do Brasil".


Selton Mello acerta em cheio em não deixar-se contaminar totalmente pela tristeza que a história poderia provocar. Enquanto Benjamin se mantém como um anti-herói tragicômico (com ecos de Carlitos), em sua busca quixotesca por uma loja de auto-peças que pode significar seu rompimento com o passado, o elenco coadjuvante faz a festa em sequências de um humor puro, ingênuo e leve como um bom número de palhaços de circo. Moacyr Franco levou o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Paulínia por sua atuação antológica como um delegado, mas é injusto não citar as participações de Emilio Orciollo Neto, Jorge Loredo (o Zé Bonitinho em pessoa), Fabiana Karla, o sumido Ferrugem e até mesmo de Danton Mello, irmão de Selton, em uma aparição carinhosa.

Aliás, carinho parece ser a palavra-chave de "O palhaço". Nota-se perfeitamente em cada plano, em cada cena, o carinho de Selton por suas personagens, por sua história, por suas influências e principalmente por seus atores, todos extremamente bem dirigidos. Em tom quase anedótico, "O palhaço" é a prova viva de que, apesar da tradicional afirmação de que todo palhaço é triste - e não deixa de ser irônico que Selton, mais conhecido por seus papéis cômicos seja tão emocional em sua carreira de cineasta - fazer rir é não apenas uma vocação. É destino! Bravo, Selton! Que venha o próximo filme.

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