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MOONRISE KINGDOM

MOONRISE KINGDOM (Moonrise kingdom, 2012, Indian Paintbrush/American Empirical Pictures, 94min) Direção: Wes Anderson. Roteiro: Wes Anderson, Roman Coppola. Fotografia: Robert D. Yeoman. Montagem: Andrew Weisblum. Música: Alexandre Desplat. Figurino: Kasia Walicka-Maimone. Direção de arte/cenários: Adam Stockhausen/Kris Moran. Produção executiva: Sam Hoffman, Mark Roybal. Produção: Wes Anderson, Jeremy Dawson, Steven Rales, Scott Rudin. Elenco: Jared Gilman, Kara Hayward, Bruce Willis, Edward Norton, Frances McDormand, Bill Murray, Tilda Swinton, Bob Balaban, Jason Schwartzman. Estreia: 16/5/12 (Festival de Cannes)

Indicado ao Oscar de Roteiro Original

O órfão Sam (Jared Gilman) foge do acampamento de escoteiros onde se sente deslocado e solitário e parte ao encontro da garota que ama, Suzy (Kara Hayward), uma menina negligenciada pelos pais advogados que administram a casa de forma rígida e pouco amorosa e a consideram uma criança-problema. Os dois pré-adolescentes - que enxergam um no outro o amor e a compreensão que tanto necessitam - resolvem refugiar-se no bosque, contando apenas com os truques aprendidos por Sam em seu período no escotismo e com o toca-discos e os livros fantasiosos de Suzy. Sua fuga, porém, abala os adultos que deveriam ser seus responsáveis, e uma busca aflita tem início, unindo os pais da jovem, o xerife local, o chefe dos escoteiros e até uma assistente social que precisa dar um rumo à vida do menino após a desistência de sua última família adotiva.

Fosse escrito e dirigido por um cineasta mais afeito às convenções das comédias românticas adolescentes, "Moonrise kingdom" fatalmente contaria sua história de forma convencional, sentimental e com um senso de humor óbvio e pasteurizado. No entanto, sob o comando de Wes Anderson, o resultado é completamente o oposto. Dono de uma obra no mínimo excêntrica - que inclui os elogiados "Três é demais" e "Os excêntricos Tenenbaums" - o cineasta americano usa e abusa de todas as características singulares que fazem de sua filmografia um estranho no ninho na indústria hollywoodiana (personagens bizarros, humor singular e uma narrativa com ênfase no visual extravagante) para transformar um singelo conto de amor juvenil em um filme que nada contra a corrente do gênero. Mesmo que tenha surgido das memórias afetivas de seu diretor - que divide o roteiro com Roman Coppola, filho de Francis e irmão de Sofia - "Moonrise kingdom" não se deixa dominar pela nostalgia e pela melancolia: é um produto típico de seu autor, capaz de encantar a quem busca um cinema menos comum ou aborrecer o espectador mais tradicional.


Situando sua trama na década de 60 - o que possibilita um espetáculo à parte no desenho de produção e figurinos - Wes Anderson foge habilmente do lugar-comum das histórias de amor por não apostar todas as suas fichas no romance entre os inábeis mas bem-intencionados Sam e Suzy. Dividindo o foco narrativo em duas frentes, ele equilibra a delicadeza de uma nascente história de amor com o humor sutil e inteligente que surge da busca frequentemente equivocada dos adultos por seu pátrio poder - mesmo que ele não venha necessariamente dos pais. Ao tratar os adolescentes como heróis da história e relegar os mais velhos a uma situação de quase absoluta insensatez, o roteiro indicado ao Oscar - perdeu para "Django livre", de Quentin Tarantino - oferece à audiência uma saudável reversão de expectativas que encontra em seu brilhante elenco um invejável respaldo artístico. Ao colaborador habitual do cineasta, Bill Murray (que interpreta o pai de Suzy), juntam-se Frances McDormand (como a mãe da garota, uma mulher que comanda a casa através de um megafone), Edward Norton (no papel do incompetente chefe dos escoteiros), Bruce Willis (como o bem-intencionado xerife que tem um caso com a mãe da jovem desaparecida) e Tilda Swinton (no papel pequeno mas crucial da assistente social que chega ao cenário para aumentar a confusão).

Filme que abriu o Festival de Cannes 2012, "Moonrise kingdom" é um perfeito exemplar da cinematografia de Wes Anderson, que logo em seguida finalmente seria consagrado com o fantástico "O Grand Hotel Budapeste". Longe de ser hermético ou visualmente excitante apenas por sê-lo, é um filme agradável, plasticamente ousado e leve como convém a uma comédia romântica. Mas é, também, inteligente e adorável. Peca em não aprofundar adequadamente seus personagens, mas é um detalhe de pouca relevância diante de outras qualidades tão óbvias.

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