terça-feira

INSTINTO MATERNO

INSTINTO MATERNO (Pozitia copiulu/Child's pose, 2013, Parada Film/Hai Hui Entertainment, 112min) Direção: Calin Peter Netzer. Roteiro: Razvan Radulescu, Calin Peter Netzer. Fotografia: Andrei Butica. Montagem: Dana Bunescu. Figurino: Irina Marinescu. Direção de arte/cenários: Malina Ionescu/Ana Gabriela Lenmaru. Produção: Calin Peter Netzer, Ada Solomon. Elenco: Luminita Gheorghiu, Bogdan Dumitrache, Natasa Raab, Ilinca Goia, Florin Zamfirescu. Estreia: 11/02/13 (Festival de Berlim)

O cinema romeno não é tão reconhecido internacionalmente como o francês, o italiano, o iraniano e o chinês, mas a julgar pelo que é mostrado em "Instinto materno", que teve sua estreia mundial no Festival de Berlim de 2013, está a caminho de tornar-se mais uma cinematografia a encher os olhos e o coração dos cinéfilos. Ao contar uma história de aparente simplicidade dramática - mas que esconde grande força por debaixo do claramente perceptível - o filme do cineasta Calin Peter Netzer carrega o público à uma espiral de corrupção e ressentimentos familiares que demonstra, sem espaço para dúvidas, que o ser humano, independente de sua nacionalidade ou status social, é feito quase sempre do mesmo material.

A protagonista do filme é Cordelia Keneres (Luminita Gheorghiu), arquiteta bem-sucedida que tem uma relação complicada com o único filho, Barbu (Bogdan Dumitrache) e com a nora, Olga (Natasa Raab), que vem de outro casamento. As dificuldades de relacionamento são postas de lado, porém, quando Barbu, em excesso de velocidade, atropela e mata um menino de 14 anos e foge da cena do acidente. Ciente de que o filho irá enfrentar um julgamento por homícidio doloso, Cordelia aciona todas as suas influentes conexões políticas e começa um jogo sujo que inclui suborno, alteração de provas e altas doses de oportunismo. Enquanto mantém sua missão como prioridade, ela tenta aproximar-se do rapaz, utilizando-se da situação para afastá-lo da esposa e retomar seu lugar de mãe.


Representante oficial da Romênia na busca por uma indicação ao Oscar 2014 de filme estrangeiro, "Instinto materno" acabou ficando de fora da lista, mas isso não o impediu de ficar com um prêmio especial no Festival de Berlim, de onde saiu elogiadíssimo pela crítica. Motivos não faltaram: além do roteiro repleto de subtextos, que mescla com sutileza drama familiar, crítica social e uma pesada e contundente denúncia sobre a corrupção dos mais ricos, a direção de Netzer é sutil e delicada, dando atenção especial à cada nuance de seus atores, todos em grande sintonia. Luminita Gheorghiu, em especial, é um show à parte: sua Cordelia Keneres começa a trama como uma mulher fria e calculista, capaz de subornar discretamente a diarista para descobrir detalhes sobre a vida conjugal do filho, passa à uma avassaladora mãe coragem em defesa do rebento (ainda que com métodos condenáveis) e termina sua trajetória como uma mulher digna de pena e que mostra um lado até então escondido pelas roupas caras e pelo caráter um tanto dúbio, e a atriz está estupenda em todos os momentos. Discreta e de grande força no olhar, ela carrega o filme nas costas (apesar da qualidade de seus colegas de cena).

Mesmo que mude o tom da narrativa em sua metade final, substituindo a denúncia pelo drama e enfraquecendo sua potência inicial, "Instinto materno" se mantém como uma grata surpresa. Não apenas prende a atenção do público do princípio ao fim, como o faz sem apelar para clichês ou drama fácil. É um filme que faz pensar sem ser didático, emociona sem exagerar e apresenta ao público uma personagem riquíssima em nuances, interpretada por uma atriz espetacular. Se os próximos filmes romenos forem nesse nível, que sejam muito bem-vindos.

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