terça-feira

ELSA & FRED

ELSA & FRED (Elsa & Fred, 2014, Cuatro Plus Films/Defiant Pictures, 97min) Direção: Michael Radford. Roteiro: Michael Radford, Anna Pavignano. Fotografia: Michael McDonough. Montagem: Peter Boyle. Música: Luis Bacalov. Figurino: Gary Jones. Direção de arte/cenários: Stephanie Carroll/Alice Baker. Produção executiva: Aaron L. Gilbert, Jason Hewitt, Carsten H.W. Lorenz, Angel Losada Moreno, Gary Preisler, Osvaldo Ríos, Lane Sisung, Rob Weston. Produção: Matthias Ehrenberg, Ricardo Kleinbaum, José Levy, Edward Saxon, Nicolas Veinberg. Elenco: Shirley MacLaine, Christopher Plummer, Marcia Gay Harden, Scott Bakula, Chris Noth, George Segal, James Brolin. Estreia: 07/3/14 (Festival de Miami)

Que o público norte-americano tem ojeriza a filmes legendados não é novidade para ninguém. Portanto, nada mais natural e previsível que uma versão hollywoodiana de "Elsa & Fred", sucesso argentino dirigido por Marcos Carnevale. A única surpresa nesse caso foi a longa distância entre a estreia do filme original (2005) e o lançamento do remake, comandado por Michael Radford, conhecido do grande público pela direção do belo "O carteiro e o poeta", que lhe rendeu uma indicação ao Oscar em 1996. Nessa quase década que separa as duas versões, Radford não emplacou nenhum grande filme e nem mesmo seu prestígio unido aos nomes premiados e conhecidos de Shirley MacLaine e Christopher Plummer ajudou sua comédia romântica para a terceira idade a decolar nas bilheterias. Praticamente ignorada pelo público, a história de amor entre dois septuagenários com visões opostas da vida estreou nos EUA no Festival de Miami, passou por diversas outras mostras internacionais (inclusive no Rio de Janeiro) e acabou melancolicamente estreando comercialmente quase no final do ano - nos cinemas e no serviço de streaming. Mesmo não sendo exatamente uma obra-prima merecia melhor sorte.

A trama, para quem não viu o filme original, é simples e direta: depois de ficar viúvo de uma mulher com quem não tinha mais nenhum tipo de vínculo afetivo, o veterano Fred Barcroft (Christopher Plummer, recém-oscarizado por "Toda forma de amor") é transferido por sua filha, Lydia (Marcia Gay Harden), para um novo e mais confortável prédio, onde se vê obrigado a contar com a ajuda de uma cuidadora, Laverne (Erika Alexander). Desanimado com a vida e passando os dias deitado na cama assistindo à televisão, Fred tenta ignorar a alegria de sua vizinha, Elsa Hayes (Shirley MacLaine, luminosa como sempre), uma mulher de eterno alto-astral, fã incondicional de "A doce vida", de Fellini e mentirosa quase compulsiva. Aos poucos, porém, a energia positiva de Elsa vai transformando a personalidade de Fred e os dois se descobrem apaixonados, para surpresa de ambas as famílias - inclusive o ex-marido de Elsa, Max (James Brolin).


Usando e abusando do carisma de seu par central de atores, Michael Radford nem precisa se esforçar muito para fazer de "Elsa & Fred" um programa agradável e divertido. Mesmo que a trama não fuja dos clichês - com direito a reviravoltas dramáticas e tudo - a forma com que o cineasta conduz a narrativa torna tudo muito simpático e envolvente. As tramas paralelas, que retratam os problemas dos filhos do casal - ela tem dois filhos, um dos quais é um artista plástico constantemente atolado de dívidas e ele tem um genro que o pressiona a ajudá-lo em um novo negócio - são pouco interessantes, mas a homenagem ao clássico de Fellini (com MacLaine vestida de Anita Ekberg em plena Fontana de Trevi) dá um gostinho a mais ao cinéfilo mais apaixonado. Além disso, é impossível não se deixar conquistar pela esfuziante Elsa de Shirley MacLaine, uma das atrizes mais completas de Hollywood, infelizmente pouco explorada nos últimos anos. Sempre que está em cena, MacLaine ilumina tudo a seu redor, e não é difícil entender porque até mesmo o sisudo Fred de Christopher Plummer se deixa seduzir por tanta energia.

Leve, divertido, emocionante e extremamente simpático, "Elsa & Fred" é uma sessão da tarde descompromissada, mas valorizada (muito) por seu casal central e pela sutileza da direção de Michael Radford, que desvia do dramalhão com muita propriedade e evita descaracterizar a obra original, tão elogiada e querida pelo público que, ao contrário dos americanos, não tem resistência a filmes estrangeiros.

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