terça-feira

MALÉVOLA

MALÉVOLA (Maleficent, 2014, Walt Disney Pictures, 97min) Direção: Robert Stromberg. Roteiro: Linda Woolverton, baseado em "A bela adormecida", de Charles Perrault. Fotografia: Dean Semler. Montagem: Chris Lebenzon, Richard Pearson. Música: James Newton Howard. Figurino: Anna B. Sheppard. Direção de arte/cenários: Dylan Cole, Gary Freeman/Lee Sandales. Produção executiva: Sarah Bradshaw, Don Hahn, Angelina Jolie, Palak Patel, Matt Smith, Michael Vieira. Produção: Joe Roth. Elenco: Angelina Jolie, Elle Fanning, Sharlto Copley, Lesley Manville, Imelda Staunton, Juno Temple, Sam Riley. Estreia: 28/5/14

Indicado ao Oscar de Melhor Figurino

A trama em si todo mundo conhece, no mínimo desde a estreia de "A bela adormecida" versão Walt Disney, de 1959: uma jovem princesa, vítima de uma maldição jogada sobre ela ainda no berço, cai em um sono profundo do qual só poderá sair depois de um beijo de amor verdadeiro. Clássico absoluto e adorado por crianças e adultos de todas as idades, o desenho animado tinha como um de seus maiores destaques a responsável pela triste sina da delicada Aurora, a fada má Malévola, que entrou para a história, assim como a Madrasta da Branca de Neve, como uma das maiores vilãs do estúdio do Mickey. Merecedora de um filme só para si, a charmosa e assustadora personagem - criada por Charles Perrault no conto publicado originalmente em 1697 - encontrou a intérprete ideal em Angelina Jolie: no filme de estreia de Robert Stromberg (apropriadamente batizado com o nome da personagem) a estonteante filha do ator Jon Voight mostra que nenhuma outra atriz de sua geração seria uma Malévola tão perfeita.

Também produtora-executiva do filme (cujo projeto já existia há algum tempo, com o nome do diretor Tim Burton atrelado a alguns estágios de produção), Jolie aproveitou a onda de reinvenções de histórias infantis que deu origem à "Espelho, espelho meu" e "Branca de Neve e o caçador" (ambos de 2012) para mostrar um lado da história da Bela Adormecida até então desconhecido ou meramente imaginado. Sob um roteiro esperto e romântico de Linda Woolverton - que subverte expectativas e joga uma luz de melancolia e solidão à nova protagonista - o filme conquistou o público e a crítica com sua mistura bem equilibrada de respeito à obra original (a cena do batizado de Aurora, por exemplo, é extremamente semelhante à do desenho animado, com a fala de Malévola sendo repetida literalmente devido à exigência de Jolie) e a ousadia de desconstruir elementos-chave da narrativa, como é o caso do príncipe Felipe (Brenton Twaithes, visto também em "Sangue jovem", ao lado de Ewan McGregor), que tem bem menos importância no desfecho da trama do que se poderia esperar. Com uma renda superior a 240 milhões de dólares arrecadados só nos EUA, o filme já tem continuação garantida para 2017 - o que a sequência irá contar ainda é uma incógnita.

Visualmente deslumbrante, "Malévola" começa estabelecendo o tom da narrativa, mostrando à plateia a infância de Malévola, uma fada poderosa que vive em um reino povoado de seres especiais e mágicos - mas que sofre com o constante assédio dos seres humanos que habitam um reino bastante próximo. Ainda criança, ela salva o pequeno Stefan de ser hostilizado por seus companheiros da floresta e surge entre eles uma afinidade instantânea que aos poucos vai se transformando em amor. Porém, ao ficar adulto (e assumir as feições de Sharlto Copley, de "Distrito 9"), Stefan é tomado por uma ambição desmedida que acaba o levando a magoar profundamente a amiga de infância (em uma cena dolorosa e triste). Coroado rei, ele torna-se pai de uma linda menina a que dá o nome de Aurora - e, em busca de vingança, Malévola solta a maldição que todos conhecem. Escondida no meio da floresta por três fadinhas atrapalhadas, a menina cresce sob a vigilância e proteção da bela vilã - até que o dia previsto na cerimônia de batismo chega.

Contar os desdobramentos da reinvenção criada novamente pelos estúdios Disney é privar o espectador de algumas surpresas muito interessantes e estragar o final - menos romântico que o original, mas bem mais emocionante. Sem privar a plateia de boas cenas de ação e efeitos visuais competentes que justificam o orçamento generoso de 180 milhões de dólares, "Malévola"

ainda se beneficia de um desenho de produção deslumbrante e de um figurino (indicado ao Oscar) que acentua o tom de fantasia e sonho proposto pela narrativa - não exageradamente forte a ponto de incomodar o público infantil nem excessivamente pueril para alienar o espectador adulto. Belo, emocionante e criativo, é um filme que merece o sucesso que fez e prova de novo o talento de Angelina Jolie - capaz de dar consistência até mesmo a um conto de fadas.

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