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MOMMY

MOMMY (Mommy, 2014, Metafilms/SODEC, 139min) Direção e roteiro: Xavier Dolan. Fotografia: André Turpin. Montagem: Xavier Dolan. Música: Noia. Figurino: Xavier Dolan. Direção de arte/cenários: Colombe Raby/Jean-Charles Claveau. Produção: Xavier Dolan, Nancy Grant. Elenco: Anne Dorval, Antoine-Olivier Pilon, Suzanne Clément, Patrick Huard, Alexandre Goyette. Estreia: 22/5/14 (Festival de Cannes)

Prêmio do Júri no Festival de Cannes

Em 2009, o jovem Xavier Dolan, então com meros 20 anos de idade, lançou o autobiográfico "Eu matei a minha mãe", em que narrava a difícil convivência de um adolescente homossexual com sua mãe - colocando-o como vítima de uma criação severa e opressiva. Cinco anos, quatro filmes e uma série de elogios e prêmios depois, o enfant terrible do cinema canadense surpreendeu ao demonstrar uma precoce maturidade em seu quinto longa-metragem. Em "Mommy"", ele inverte o ponto-de-vista de seu filme de estreia e, ciente das dificuldades pelas quais sua mãe teve de passar ao criar um filho não exatamente convencional, entrega um drama potente, belamente fotografado e interpretado com os nervos à flor da pele. Não à toa, levou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes e angariou os mais entusiasmados aplausos de sua carreira até então.

Abdicando do papel central - afinal o personagem é um adolescente de 15 anos e nem mesmo com seu rosto juvenil ele convenceria o público - Dolan tem o controle quase total de seu filme, assinando a obra como diretor, roteirista, produtor e editor. Poderia ser apenas mais um exercício cansativo de autossuficiência se o rapaz não tivesse talento bastante para dar conta de tantas responsabilidades. Ao optar até mesmo por um formato de fotografia que enfatiza as limitações claustrofóbicas do jovem protagonista (e que se abre em uma já antológica sequência ao som de "Wonderwall", da banda inglesa Oasis), o jovem cineasta demonstra uma segurança ímpar no desenvolvimento do emocional material que tem em mãos, conseguindo até mesmo conter a tendência ao exagero dramático que caracterizava seus primeiros trabalhos. Cuidadoso na escolha de cada detalhe de seu filme, Dolan atinge o coração do espectador ao sublinhar principalmente a relação complicada entre seus dois protagonistas - visceralmente interpretados por Antoine-Olivier Pilon e Ann Dorval (que, sintomaticamente, também era a atriz central de "Eu matei a minha mãe").


Dorval - intensa, entregue, à flor da pele - dá vida à Diane Després, uma viúve jovem e atraente que dá duro como faxineira para sustentar-se e ao filho único, Steve (Antoine Olivier-Pilon), que vive em uma instituição psiquiátrica desde que foi diagnosticado como portador da Síndrome do Déficit de Atenção. Quando ela toma a decisão de retirá-lo do hospital - impulsionada pelo fato do rapaz ter agredido violentamente um colega - sua vida se transforma. Steve é extremamente inconstante e oscila radicalmente entre a docilidade e a agressividade, além de ser incapaz de encaixar-se nos moldes tradicionais de ensino. É aí que entra em cena Kyla (Suzanne Clemént), uma vizinha que s oferece para dar aulas particulares para ele e torna-se amiga íntima de Diane. Dona de um trauma familiar que envolve a morte de uma criança, ela acaba por ser testemunha da relação extrema entre mãe e filho, que atinge níveis surpreendentes de violência física e psicológica. No entanto, ela não consegue deixar de notar, também, o amor obsessivo de um pelo outro.

Um filme capaz de deixar o coração do espectador apertado e em lágrimas, "Mommy" é mais do que apenas o filme da maturidade de Xavier Dolan: é um poderoso drama familiar, repleto de momentos antológicos e sequências dolorosamente realistas, escritas e interpretadas com uma naturalidade admiráveis. Com cenas intensamente tristes - em especial perto do desfecho, razoavelmente otimista - e uma trilha sonora que mistura Oasis, Dido, Lana Del Rey, Counting Crows e Andrea Bocelli, o filme de Dolan funciona bem tanto como cinema - é tecnicamente o mais bem-acabado do cineasta - quanto como pedido de desculpas por seus dramas e excessos juvenis. Um trabalho avassalador e inesquecível, de deixar qualquer um de queixo caído.

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