segunda-feira

MENINOS DO BRASIL

MENINOS DO BRASIL (The boys from Brazil, 1978, Paramount Pictures, 125min) Direção: Franklin J. Schaffner. Roteiro: Heywood Gould, romance de Ira Levin. Fotografa: Henri Decae. Montagem: Robert E. Swink. Música: Jerry Goldsmith. Figurino: Anthony Mendleson. Direção de arte/cenários: Gil Parrondo/Vernon Dixon. Produção executiva: Robert Fryer. Produção: Stanley O'Toole, Martin Richards. Elenco: Gregory Peck, Laurence Olivier, James Mason, Lilli Palmer, Rosemary Harris, Steve Guttenberg, Bruno Ganz, Uta Hagen, Denholm Elliott. Estreia: 04/10/78

3 indicações ao Oscar: Ator (Laurence Olivier), Montagem, Trilha Sonora Original

Hoje em dia, com o cinema de posse de um dos temas mais fascinantes da ciência - e que algumas décadas atrás soava apenas como uma delirante trama de ficção científica - a clonagem humana já não tem o mesmo impacto junto às plateias que se acostumaram a efeitos visuais acachapantes e uma realidade ainda mais assustadora. Nos anos 70, porém, a ideia de criar um ser humano idêntico a outro através de experiências genéticas era um assunto novo e praticamente inexplorado pela sétima arte. Lançado em 1976, o romance "Meninos do Brasil", do escritor Ira Levin - autor também de "O bebê de Rosemary", que Roman Polanski levou às telas em 1968 - não apenas lançava mão de tal artifício quase inédito, mas o ligava a outro argumento igualmente atraente ao público de cinema: os crimes de guerra cometidos pelo nazismo durante e após a II Guerra Mundial. Usando como protagonista o temível e infame Josef Mengele - conhecido também como "Anjo da Morte" - a trama de seu livro logo interessou à Hollywood, que em cerca de um ano estreava sua adaptação com uma equipe de tirar o chapéu.

Na direção, Franklin J. Schaffner, já premiado com um Oscar pelo comando de "Patton - rebelde ou herói?" (70). Na trilha sonora, o também já oscarizado - por "A profecia" (76) - Jerry Goldsmith. No elenco, Gregory Peck e Laurence Olivier - homenageados pela Academia por "A luz é para todos" (47) e "Hamlet" (48), respectivamente. E como coadjuvantes, o sempre preciso James Mason (indicado três vezes ao Oscar) e os futuramente respeitados Denholm Elliot e Rosemary Harris. Com tanta gente boa em cena e uma história intrigante em mãos, não tinha como dar errado. E não deu. Bem recebido pela crítica, "Meninos do Brasil" acabou por ser indicado em três categorias do Oscar, incluindo melhor ator para Laurence Olivier - que também concorreu ao Golden Globe e foi eleito o melhor ator do ano pelo National Board of Review, empatado com Jon Voight, por "Amargo regresso". Um suspense adulto e sem medo de ir até as últimas consequências em seu desejo de alertar para os perigos da ciência quando em mãos erradas, o filme de Schaffner cria uma atmosfera sombria e um tom de thriller para conquistar a plateia desde seus minutos iniciais e, ao contrário de "Maratona da morte" (76) - que também tinha um nazista foragido e Laurence Olivier na receita  - não exige da plateia a paciência de esperar até o ato final para esclarecer todas as questões levantadas pelo roteiro bem amarrado de Heywood Gould.



Se em "Maratona da morte" o veterano Laurence Olivier vivia um criminoso de guerra atrás de um tesouro roubado dos judeus mortos nos campos de concentração, em "Meninos do Brasil" ele muda de lado, na pele de Ezra Lieberman, um conhecido caçador de nazistas que é procurado pelo jovem Barry Kohler (Steve Guttenberg em início de carreira) com a informação de que um grupo de oficiais da SS está mantendo reuniões em uma cidade do Paraguai, com objetivos ainda não descobertos. Colocando escutas em tais reuniões, Kohler descobre que os criminosos - liderados pelo infame Josef Mengele (Gregory Peck) - tem planos de assassinar 94 homens com a idade de 65 anos, moradores de diferentes países do planeta. Intrigado com o projeto, Lieberman assume a investigação do caso e passa a visitar os familiares das primeiras vítimas. Para sua surpresa e choque, ele descobre que todos os mortos tinham em comum filhos adotivos da mesma idade e impressionante semelhança física e de personalidade. Quando a extensão dos planos nazistas ficam claros - para seu choque e desespero - resta a ele tentar impedir sua realização, que pode mergulhar a humanidade novamente em um pesadelo genocida.

A princípio um filme alarmista e pouco verossímil, "Meninos do Brasil" conquista principalmente por não ter medo em assumir seu lado sensacionalista, mas o cobrindo com uma bem-vinda dose de seriedade. A interpretação de Gregory Peck como Mengele pode não ser a melhor de sua carreira - apesar dele mesmo considerá-la um de seus pontos altos - mas Laurence Olivier mostra, com seu Ezra Lieberman, porque era um dos grandes atores de sua geração. Com a saúde frágil durante as filmagens, ele entrega mais uma performance memorável, oferecendo sua credibilidade à uma trama que, em mãos menos competentes, poderia facilmente descambar para uma produção B. O cuidado de Schaffner em tratar a história com um suspense que não subestima a inteligência da plateia é louvável, assim como sua opção em revelar os desdobramentos da trama de forma a encaminhar tudo para um clímax envolvente e digno, que não decepciona nem apela a incoerências patéticas. Os "meninos do Brasil" do título são realmente apavorantes - e seu objetivo é de arrepiar, mesmo que tudo não passe de uma (brilhante) ficção. Inteligente, sério, assustador. "Meninos do Brasil" é um filme que se mantém atual apesar da idade - especialmente em um mundo tão chocantemente fascista que começa a se (re)desenhar.

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