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O FEITIÇO DE ÁQUILA

O FEITIÇO DE ÁQUILA (Ladyhawke, 1985, 20th Century Fox, 121min) Direção: Richard Donner. Roteiro: Edward Khmara, Michael Thomas, Tom Mankiewicz, estória de Edward Khmara. Fotografia: Vittorio Storaro. Montagem: Stuart Baird. Música: Andrew Powell. Figurino: Nanà Cecchi. Direção de arte/cenários: Wolf Kroeger. Produção executiva: Harvey Bernhard. Produção: Richard Donner, Lauren Schuller. Elenco: Rutger Hauer, Michelle Pfeiffer, Matthew Broderick, Leo McKern, John Wood, Alfred Molina. Estreia: 12/4/85

2 indicações ao Oscar: Som, Efeitos Sonoros

Quando Richard Donner resolveu assumir a batuta de "O feitiço de Áquila", fábula medieval com toques de romance, aventura e humor, ele já era um diretor conhecido e com no mínimo dois enormes sucessos comerciais no currículo, "A profecia" (76) e "Superman, o filme" (78). Cineasta competente, capaz de transitar com tranquilidade por vários gêneros - em 1987 começou a série "Máquina mortífera", que catapultou a carreira de Mel Gibson - Donner não viu nenhuma espécie de problema em comandar uma trama que pudesse exigir do espectador uma dose extra de boa-vontade, por fugir do tradicional esquema dos grandes estúdios e apostar na fantasia como principal ingrediente. Talvez devesse ter pensado melhor: seu filme acabou ignorado pelo público e desprezado pela crítica, arrecadando pouco mais de 18 milhões de dólares e lhe deixando em uma situação nada invejável, já que seu trabalho anterior, a comédia "O brinquedo" (82) - feito para capitalizar em cima da popularidade do ator Richard Pryor - também não havia sido exatamente um êxito financeiro. Foi somente com o tempo - esse fator tantas vezes cruel com a arte - que o público foi descobrindo as qualidades de seu filme, que tornou-se cult depois de seu lançamento em vídeo e de diversas apresentações na televisão. Hoje, "O feitiço de Áquila" é, sem dúvida, um dos filmes mais famosos de Donner - e um clássico dos anos 80.

Passada na Itália do século XIV, a trama de "O feitiço de Áquila" gira em torno do amor proibido e da maldição que envolve o Capitão Etienne Navarre (Rutger Hauer) e a bela Isabeau (Michelle Pfeiffer, deslumbrante e antes de virar estrela de primeira grandeza em Hollywood): por artes do invejoso e vil Bispo de Áquila (John Wood, em papel pensado para o roqueiro Mick Jagger), o par de amantes está condenado a jamais consumar seu romance de forma plena. Em um ato de vingança contra a rejeição de Isabeau, o Bispo fez um pacto com as trevas que transforma a jovem em um falcão durante o dia e o soldado em lobo durante a noite. Sempre juntos mas nunca em forma humana ao mesmo tempo, os dois tentam encontrar uma maneira de reverter a maldição: enquanto Navarre acredita que somente matando o Bispo com a espada de sua família isso pode acontecer, porém, um velho monge chamado Imperius (Leo McKern) - responsável por parte da tragédia - surge com uma alternativa, que só pode acontecer em uma data específica, quando um eclipse solar impedirá o sol de transformar Isabeau e pássaro. Para chegarem ao castelo, no entanto, eles irão precisar da ajuda de Phllipe Gaston, o Rato (Matthew Broderick), ladrão de galinhas que foi o único a conseguir escapar da masmorra do palácio.





Realizado antes que os efeitos digitais tomassem conta da indústria de cinema - o que fica bastante claro nas sequências em que os protagonistas sofrem suas metamorfoses - e com uma trilha sonora bastante inadequada de Andrew Powell, "O feitiço de Áquila" encontra redenção na verdade com que os atores se entregam à trama, oferecendo um tom de realismo a uma história cujo tom de fantasia é o principal elemento. Matthew Broderick é quem sai-se melhor, na pele do esperto Rato - uma espécie de ensaio para seu inesquecível Ferris Bueller de "Curtindo a vida adoidado" (86) - e é difícil imaginar que nomes tão díspares quanto Sean Penn e Dustin Hoffman tenham sito cotados para o papel. Aliás, o elenco parece tão coeso que soa estranho imaginar como seria se os atores inicialmente imaginados por Donner realmente tivessem assinado seus contratos: além de Penn e Hoffman, outros absurdos foram cogitados, como escalar Sean Connery para interpretar o galã - que, antes da decisão do diretor de escalar Hauer (ator holandês mais conhecido então por "Blade Runner, o caçador de androides" (82), estava nas mãos de Kurt Russell, que desistiu do filme poucos dias antes do começo das filmagens na Itália - em três castelos de propriedade da família do cineasta Luchino Visconti.


Para quem é fã de produções fantásticas, com histórias que equilibram romance e aventura, "O feitiço de Áquila", com todos os seus "defeitos" especiais, é uma pequena obra-prima. A fotografia do veterano Vittorio Storaro é deslumbrante e capta com perfeição o visual exuberante exigido pelo roteiro, que usa e abusa de todos os clichês do gênero sem soar reverente ou debochado. O respeito de Donner pelo material e a seriedade com que ele se dedica a criar um universo plausível mesmo diante de um enredo fantasioso é um dos grandes méritos do filme, que é valorizado também pelos atores e pelo ar de nostalgia que permite ao espectador deixar passar seus pecados nem tão imperceptíveis assim. Enfim, é uma sessão da tarde clássica, com tudo que isso tem de bom e de ruim.

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