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O FRANCO-ATIRADOR (2015)

O FRANCO-ATIRADOR (The gunman, 2015, StudioCanal/Silver Pictures, 115min) Direção: Pierre Morel. Roteiro: Don MacPherson, Pete Travis, Sean Penn, romance de Jean-Patrick Manchette. Fotografia: Flavio Martinez Labiano. Montagem: Frédéric Thoraval. Música: Marco Beltrami. Figurino: Jill Taylor. Direção de arte/cenários: Andrew Laws/Anneke Botha. Produção executiva: Aaron Auch, Olivier Courson, Adrian Guerra, Peter McAleese, Steve Richard. Produção: Ron Halpern, Sean Penn, Andrew Rona. Elenco: Sean Penn, Javier Bardem, Jasmine Trinca, Mark Rylance, Ray Winstone, Idris Elba. Estreia: 16/02/15

Lançado em 1978, o drama de guerra "O franco-atirador" tornou-se a primeira produção norte-americana a lidar de frente com o conflito do Vietnã e se dar bem nas bilheterias e junto à crítica, chegando a sagrar-se o grande vencedor do Oscar nas categorias mais importantes (filme e direção). O mesmo, porém, não pode ser dito de seu homônimo, comandado pelo francês Pierre Morel e adaptado do livro de Jean-Patrick Manchette: mesmo estrelado por nomes consagrados como Sean Penn (também produtor), Javier Bardem e o recém-oscarizado Mark Rylance (de "Ponte dos espiões"), o filme jamais consegue atingir o equilíbrio entre filme de ação e drama político que almeja, tornando-se um híbrido sem personalidade e, o que é ainda pior, confuso e com personagens pouco carismáticos ou interessantes. Não por acaso, fracassou comercialmente e foi ignorado pela crítica, apesar do elenco e do potencial da trama.

A história começa no Congo, país africano mergulhado em profunda convulsão social. É lá que o assassino de aluguel Terrier (Sean Penn, competente, mas um pouco além da idade para o personagem) assume a missão de matar o Ministro das Minas local, o que complica ainda mais a situação caótica da nação. Depois do crime, para autoproteção, ele se vê obrigado a abandonar qualquer ligação com seus companheiros de equipe e a própria namorada, Annie (Jasmine Trinca), cortando totalmente seus laços com todos eles. Algum tempo depois, no entanto, ele está de volta ao Congo, trabalhando em uma ONG e tentando, à sua maneira, reparar os danos de sua ação passada. Essa vida relativamente tranquila é virada do avesso quando ele é alvo de um violento atentado, do qual escapa graças a suas habilidades profissionais, e descobre que o fato tem ligações com a morte do ministro. Isso faz com que ele volte a procurar seus antigos amigos, Terrance Cox (Mark Rylance), agora um poderoso empresário, e Felix (Javier Bardem), que leva uma vida confortável casado justamente com Annie. Todos eles se descobrem ameaçados, mas Terrier desconfia de todos até que finalmente se vê diante de uma verdade pouco conveniente.


É difícil acreditar que o diretor de "O franco-atirador" seja Pierre Morel, um cineasta pouco brilhante, é verdade, mas com experiência em filmes de ação, como "Busca implacável" (2008) e "Dupla implacável "(2010), que não são exatamente obras-primas mas se sustentam como entretenimento descompromissado. Em seu novo filme, Morel tenta atingir níveis maiores de relevância à trama, lhe adicionando temas sociopolíticos, mas acaba derrapando em uma superficialidade constrangedora. O roteiro - com participação de Sean Penn - é confuso quando tenta ser surpreendente e todas as cenas dramáticas, a despeito do talento dos atores envolvidos, carecem de verossimilhança e sensibilidade. Penn faz o que pode com seu personagem, mas é atrapalhado por uma história pouco crível e tratada com quase desleixo. As cenas de ação até são competentes, especialmente no terço final da narrativa, mas é muito pouco para cativar o espectador que, até então, lutou para acompanhar as investigações do protagonista - e tentou entender o que, afinal, as cenas do início do filme tem a ver com seu desfecho. Também não ajuda a presença da italiana Jasmine Trinca, sem o carisma necessário para segurar o principal papel feminino do filme, especialmente diante de gigantes como Sean Penn e Javier Bardem - outro que se esforça em tirar algo de um personagem raso e sem grandes possibilidades.

No final das contas, "O franco-atirador" não passa de um filme de ação genérico, com um pouco mais (bem pouco) de substância do que seus congêneres e um elenco de primeira linha tentando disfarçar suas falhas de roteiro e sua incapacidade de se aprofundar em qualquer discussão política que porventura poderia surgir de sua situação inicial. Para os menos exigentes pode ser uma diversão descompromissada para uma madrugada insone, mas levando-se em consideração o quão bom poderia ser é uma tremenda decepção, um grande passo em falso nas carreiras de Sean Penn e Javier Bardem. Nem mesmo alguns momentos isolados de violência e ação são suficientes para evitar a sensação de tédio.

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