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O MÁGICO DE OZ

O MÁGICO DE OZ (The wizard of Oz, 1939, MGM, 102min) Direção: Victor Fleming. Roteiro: Noel Langley, Florence Ryerson, Edgar Allan Woolf, adaptação de Noel Langley, romance de L. Frank Baum. Fotografia: Harold Rosson. Montagem: Blanche Sewell. Figurino: Adrian. Direção de arte/cenários: Cedric Gibbons/Edwin B. Willis. Produção: Mervyn LeRoy. Elenco: Judy Garland, Frank Morgan, Ray Bolger, Bert Lahr, Jack Haley, Billie Burke, Margaret Hamilton. Estreia: 15/8/39

6 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Fotografia (Cores), Trilha Sonora Original, Canção Original ("Over the rainbow"), Direção de Arte, Efeitos Visuais
Vencedor do Oscar de Canção ("Over the rainbow") 

Se existe um filme que pode ser considerado parte do imaginário coletivo da humanidade, esse filme é "O mágico de Oz". Mesmo quem nunca assistiu às aventuras de Dorothy em busca do caminho de volta ao lar depois de ser afastada da família em consequência de um tornado conhece sua história, tem noção de seus personagens icônicos (Homem de Lata, Espantalho, Leão Covarde, Bruxa Má do Oeste) e já ouviu a clássica canção "Over the rainbow", imortalizada na voz de sua atriz principal Judy Garland. Lançado em 1939 - ano de ouro que também marcou a estreia de "...E o vento levou", "O morro dos ventos uivantes", "Ninotchka" e "No tempo das diligências" - o filme de Victor Fleming tornou-se eterno no coração dos cinéfilos a despeito de sua temática aparentemente infantil justamente por sua alta dose de inocência e sensibilidade. Não à toa, em um aviso logo no início da projeção, os produtores dedicam à história a todos aqueles que se mantém jovens de coração - um toque que certamente agradaria ao autor do romance que deu origem ao roteiro, L. Frank Baum.

Publicado em 1900 e seguido por nada menos que dezesseis continuações, "O mágico de Oz" chegou às telas de cinema depois de exaustivas filmagens que duraram cinco meses de árdua labuta e muitas dúvidas acerca de suas possibilidades comerciais. Apesar de já ser um sucesso no teatro, o livro de Baum - cujos direitos foram comprados pela então astronômica quantia de 75 mil dólares - demandou um trabalho hercúleo de quatorze (!!) roteiristas e cinco diretores, até que o resultado final (escrito por Noel Langley, Florence Ryerson e Edgar Allan Woolf sob uma adaptação bem menos sombria do material original) agradasse à MGM e Victor Fleming (que também assinou "...E o vento levou", no mesmo ano, e levou um Oscar por isso). Situações pouco palatáveis à plateia infantojuvenil foram limadas do texto final e um tom menos sinistro foi providenciado, com a inclusão de algumas canções (como a tão falada "Over the rainbow", que por pouco não foi eliminada do corte final) e um visual colorido realizado em Technicolor quase a ponto de ferir a retina. Possíveis implicações sociopolíticas também foram disfarçadas - segundo alguns críticos tudo na história tinha viés de crítica à sociedade capitalista, desde o americano médio (representado pela garota típica do meio-oeste) até a tecnologia (através do mágico), passando pelos fazendeiros da época (o espantalho sem cérebro), a indústria (o homem de lata sem coração) e os políticos (na figura do leão covarde) - e, com a impossibilidade de contar com a maior estrela-mirim da época, Shirley Temple, o estúdio do leão acabou contratando a adolescente Judy Garland para o papel principal, torcendo para que seus 16 anos de idade parecessem bem menos na tela. Talvez mérito da conjunção astral, talvez pelo talento dos envolvidos ou talvez por ser o filme certo na hora certa, "O mágico de Oz" tornou-se, quase imediatamente, um clássico dos mais amados, idolatrado por fãs de diversas gerações.


Sua estreia na televisão americana, por exemplo, em 1956, foi assistida por 44 milhões de telespectadores, o que demonstrou, sem margem para qualquer dúvida, a perenidade do filme, já então com quase 20 anos de idade. A canção "Over the rainbow" acompanhou Judy Garland por toda a sua carreira, tornando-se um clássico absoluto que sobreviveu até mesmo à sua morte - coincidência ou não, no dia em que isso aconteceu, em 1969, um tornado pegou o Kansas de surpresa, como uma última (e nada sutil) homenagem àquela que seria lembrada eternamente como a doce Dorothy, a despeito de uma respeitável carreira posterior, como cantora e atriz. Nada mal para quem pegou o papel mesmo sendo considerada velha demais e sobreviveu à constante troca de diretores que tomou conta das filmagens. Se Victor Fleming foi quem recebeu crédito como o diretor oficial, outros quatro nomes também estiveram ligados ao filme, em maior ou menor nível. Fleming realmente comandou a maior parte da missão antes de dedicar-se a "... E o vento levou", mas dividiu o trabalho com Richard Thorpe (cujas cenas ficaram totalmente de fora da versão final), o admirado George Cukor (que não filmou nenhuma sequência, mas foi responsável por mudanças no visual de Judy Garland), King Vidor (responsável pelas cenas em preto-e-branco na fazenda do Kansas, incluindo a famosa aparição da canção-tema) e o produtor Melvin LeRoy, que assinou algumas pequenas cenas de transição. Apesar de tantas mãos, no entanto, em nenhum momento "O mágico de Oz" parece um filme sem personalidade: ao contrário, é uma obra com uma surpreendente unidade visual e um brilhantismo técnico e dramático que o mantém como um dos mais adorados e queridos filmes de todos os tempos - algo que nem mesmo aberrações como "O mágico inesquecível", com Michael Jackson e Diana Ross, conseguiram estragar.

A história, para quem não conhece (se é que alguém não conhece) é simples, delicada e lúdica. Dorothy (Judy Garland) é uma menina doce e sonhadora que vive com os pais em uma fazenda do interior do Kansas. Um dia, um tornado a leva para a desconhecida Terra de Oz, acompanhada de seu fiel cãozinho Totó. Mesmo encantada com o colorido do lugar e seus habitantes exóticos, ela sonha em voltar para casa, mas para isso precisa pedir o auxílio do misterioso mágico do lugar, que vive isolado em uma casa localizada no final de uma estrada de ladrilhos amarelos, a famosa Cidade das Esmeraldas. Para chegar lá, ela conta com a companhia de três novos amigos, todos com um desejo a ser realizado pelo mágico: um leão covarde (Bert Lahr) que precisa de coragem, um homem de lata (Jack Haley) que ambiciona ser dono de um coração, e um espantalho (Ray Bolger) que busca um cérebro. Além disso, Dorothy precisa também se livrar da perseguição da Bruxa Má do Oeste (Margaret Hamilton), que deseja vingar a morte da irmã, causada pela queda da casa da menina sobre ela. No final do caminho fica claro, mais uma vez, que a viagem importa mais do que o destino, e a garota acaba por aprender uma valiosa lição de vida, resumida da famosa "Não há lugar como nossa casa!".

Um clássico na mais ampla acepção do termo, "O mágico de Oz" é, sem dúvida, um dos filmes imprescindíveis realizados pela era dourada de Hollywood, uma obra que resiste ao tempo de forma admirável e continua a encantar crianças e adultos. Não à toa, inspirou até mesmo discos de rock progressivo - o álbum "The dark side of the moon", da banda Pink Floyd, tem seu ritmo totalmente ditado pelas cenas do filme, em uma das homenagens mais criativas já feitas à uma produção cinematográfica da história. Não é para qualquer um, mas definitivamente, "O mágico de Oz" não é um filme qualquer.

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