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AMORES IMAGINÁRIOS

AMORES IMAGINÁRIOS (Les amours imaginaires, 2010, Mifilifilms/Quebec Film and Television, 101min) Direção e roteiro: Xavier Dolan. Fotografia: Stéphanie Weber-Biron. Montagem: Xavier Dolan. Figurino: Xavier Dolan. Direção de arte: Delphine Gélinas. Produção: Xavier Dolan, Carole Mondello, Daniel Morin. Elenco: Xavier Dolan, Monica Chokri, Niels Schneider, Anne Dorval, Louis Garrell. Estreia: 16/5/10 (Festival de Cannes)

Logo que estreou no Festival de Cannes em 2009 com seu primeiro filme, "Eu matei minha mãe", o jovem (20 anos de idade à época) Xavier Dolan tornou-se, instantaneamente, o enfant terrible do cinema canadense. Levou pra casa um prêmio especial do júri e virou assunto em qualquer roda de cinéfilos pelo mundo afora: para cada crítica azeda a seu respeito, pipocavam fãs encantados com seu estilo modernoso. Seu filme seguinte, "Amores imaginários" - que também teve sua estreia na Riviera Francesa - apenas acentuou a polêmica em torno de seu nome e a divisão entre admiradores e detratores. É justo, porém, encontrar um meio-termo saudável entre esses dois extremos. "Amores imaginários", uma comédia romântica, nem é tão espetacular como querem fazer crer os convertidos mais fanáticos nem tão vazio como proclamam os mais críticos. É, sim, um filme leve e quase superficial, que privilegia o visual ao conteúdo. Mas é, também, uma delícia de se assistir, desde que se deixe de lado qualquer preconceito ou expectativas grandiosas.

A ideia de um triângulo amoroso moderno no cinema não é nenhuma novidade - haja visto François Truffaut ("Jules e Jim: uma mulher para dois") e Bernardo Bertolucci ("Os sonhadores"), alguns dos célebres cineastas que investigaram essa modalidade de relacionamento. Em seu filme, Dolan não faz questão de soar revolucionário ou ousado, preferindo o caminho da sutileza e da delicadeza, deixando ao espectador o prazer de ir descobrindo aos poucos os rumos de sua trama. O próprio cineasta interpreta um dos protagonistas, o homossexual Francis, que se apaixona perdidamente pelo belo, inteligente, sexy e liberal Nicolas (Niels Schneider). O problema maior é que sua melhor amiga, Marie (Monica Chokri), também cai de amores pelo rapaz, e nenhum dos dois sabe exatamente para qual deles o rapaz está mais inclinado em oferecer o seu amor (ou sequer SE está interessado nisso): Nicolas os trata com igual atenção e carinho, embaralhando cada vez mais as pistas que levam a seu coração - e à sua cama.


Se peca em não aprofundar a psicologia de seus personagens, Dolan acerta em cheio ao tratar seu filme como uma espécie de inventário visual de sua época. É perceptível o cuidado do jovem diretor com cada detalhe de sua mise-en-scéne, desde os objetos de cena até o figurino absurdamente antenado com sua ambientação, assim como a bela fotografia de Stéphanie Weber-Biron e alguns enquadramentos belíssimos que nem mesmo o quase exagero de sequências em câmera lenta consegue atrapalhar. O olho de Dolan para as pequenas coisas e reações é admirável, assim como seu talento em explorar ao máximo a potencialidade de cada tomada. Não há, em seu filme, nenhuma cena que não seja minuciosamente preparada por sua visão esteticamente apurada. E é justamente essa atenção ao aspecto visual - em detrimento a um desenvolvimento maior de seus personagens - que incomoda tanta gente. Porém, o que talvez muitos críticos não tenham percebido em "Amores imaginários" é a sua absoluta falta de compromisso com o realismo.

Dolan trata seu filme como uma espécie de sátira a seu próprio universo cultural, um lugar onde as pessoas querem se parecer com James Dean e idolatram Audrey Hepburn, frequentam cafés e festas com gente bonita e descolada e transitam em cenários coloridos e absurdamente fotogênicos. A beleza exterior é equilibrada apenas pelas histórias dolorosas/engraçadas/patéticas contadas por outros personagens diretamente para a câmera - um artifício que funcionou às mil maravilhas em "Harry & Sally: feitos um para o outro" e que volta a ser bastante interessante nas mãos do diretor: são essas personagens desconhecidas que dão suporte ao roteiro, mostrando ao espectador que amar dói, sim, mas não mata ninguém. Sendo assim, "Amores imaginários" não é um filme feito para aqueles que consideram o cinema como uma arte de reflexão séria e densa. Pode soar raso, sim, e talvez até o seja. Mas todos aqueles que já se apaixonaram entendem perfeitamente as sensações pelas quais passam Francis e Marie. E essa empatia, essa compreensão pelo sofrimento dos outros, é uma das grandes qualidades de um filme que já demonstra grande amadurecimento de seu diretor - que pegaria o caminho dos temas mais profundos em seus filmes seguintes, "Laurence anyways" e "Mommy".

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